PALAVRAS
"O escritor escreve não porque saiba, mas para ficar sabendo" Fernando Sabino
"O escritor escreve não porque saiba, mas para ficar sabendo" Fernando Sabino
O Domingo que parecia ser algo que em seguida eu esqueceria, mudou meu pensamento quando conheci a Tia do Acarajé com mais de 30 anos de feira. Da Bahia para Pernambuco constituiu família e hoje recebe clientes fiéis que há 20 anos frequentam sua barraca. Outro exemplo é dona Querida que há 25 anos traz em seus quitutes todo o talento culinário. Sem falar da sempre gentil Evilázia, com 65 anos e disposição de dar inveja a qualquer um. E conheci tantas outras senhoras e senhores, jovens, numa atividade que passa de geração a geração.
o trânsito caótico e as refeições rápidas e muito pouco saudáveis, o que lhe suga todas as energias. Este cidadão chega em casa exausto, mas mesmo assim, ante a necessidade de se demonstrar feliz e bem sucedido, costumeiramente enfrenta maratonas sociais noturnas, juntamente com a sua esposa que, de igual sorte, trabalhou mais do que podia, e ainda se encarregou das tarefas domésticas. Os filhos, nenhum dos dois tem tempo, energia ou paciência para eles. A vida lhes dá prazer? De forma alguma. Sentem-se como que carregando o mundo nas costas. Enxergam em tudo um fardo insuportável o que acaba minando qualquer sentimento bom que os uniu inicialmente. Surgem, então, envolvimento banais, irresponsáveis, despreocupados, sem cobranças. Enganam-se achando que o fardo é sua família e dela se afasta, buscando fugas que geralmente passam por bares, boates, jogos, amigos(as) de igual sorte solitários.
Ultimamente o Centrifuga, através de seus blogueiros, Klever Schneider e Sérgio Dourado, trazem à tona discussões políticas, sociais, culturais. Com a participação de efetivos comentaristas, companheiros desta jornada cibernética, amadurecemos e crescemos em direção ao respeito da opinião do outro, numa relação sadia e vital para repensarmos até mesmos questões ideológicas. E é claro, não esqueçamos dos visitantes que lêem e não deixam suas marcas, mas certamente de alguma forma, pararam e refletiram sobre tudo o que postamos aqui. Hoje queria dividir um pouco com os colaboradores do Blog e com àqueles que fazem a leitura mas ainda não se sentiram à vontade ou com vontade de dividir um pouco o pensamento através das palavras.ÓSCULOS E AMPLEXOS PARA TODOS!
Certa vez, uma amiga jornalista (e também minha professora) me contou que estava na França estudando, quando foi interpelada por alguns colegas jornalistas franceses que questionaram quais atitudes ela tomava, como profissional de comunicação, em relação ao problema dos meninos e meninas de rua em nosso país. Ela disse que aquilo foi equivalente a um tapa na cara. Deu-se conta de como a banalidade do assunto faz com que um tema tão grave como as nossas crianças que vivem na rua não seja considerado importante para toda uma sociedade. Preferimos não enxergar. E o que não enxergamos, não sentimos. O que não sentimos não nos interessa. E não há ação se não houver interesse.
Uma importante aquisição feita pelos americanos, desde meados do século passado, foi atrair para si um grande número de cientistas, pensadores e artistas do todas as partes do mundo. Porém o principal motivo de tal ação em larga escala, por parte dos yankees, se deu quase exclusivamente por conta dos interesses políticos e bélicos contidos nas experiências de tais ilustres e criativos imigrantes. Na verdade pouco interessava a ideologia, sexo, raça ou riqueza que possuíam tais intelectuais. Mas sim o que os mesmos tinham a oferecer ao “Tio Sam” como uma moeda de permuta.
Podemos facilmente compreender como os americanos chegaram tão rapidamente ao desenvolvimento da fissão nuclear. E como essa nova e criativa forma de produção de energia teve seu objetivo desviado primeiramente para uma formatação bélica, a fim de demonstrar uma superioridade estratégica diante dos inimigos dos aliados ocidentais.
Ressalte-se a esperteza dos americanos, em um momento de fartura econômica, que puderam se dar ao luxo de comprar a criatividade no mercado internacional de cérebros descontentes e perseguidos por suas pátrias. Porém, dessa ressalva, pouco há que ser comemorado pelo resto do mundo, que luta para adequar-se à globalização e ao capitalismo selvagem. Que empurra mercados emergentes a um segundo plano e produz guerras religiosas em nome do controle da produção de petróleo.
Se a quantidade de supermercados significa um termômetro tão eficaz para se identificar uma região emergente ou de “terceiro mundo”, como analisar o fato de que esses praticamente não existem em certos países do Oriente Médio? Talvez os escombros de alguns possam ser identificados ainda. Não creio que o desaparecimento de pequenos negócios e lojas de comércio esteja ligado diretamente com o aumento da criminalidade. Acredito que a falta de oportunidade que permeia a realidade de vários países seja a principal causa do aumento do crime e da violência. E isso ocorre nos países pobres e emergentes, tendo em vista suas lutas pela adequação às leis de mercado internacionais, impostas em grande parte pelo poderio econômico dos países centrais. E dentro dessa necessidade de participar do capitalismo globalizado, muitos países deixam de lado vários dos importantes aspectos sociais que precisam ser cuidados. Suas populações padecem da falta de oportunidade e dignidade.
A “civilização” não se limita à simples oportunidade de convivência entre as pessoas nas lojas e ruas. É, mais do que isso, uma demonstração social e política de que as pessoas são importantes e têm suas existências reconhecidas pelo Estado. É o ato permanente de proporcionar a verdadeira cidadania a todos.
A decadência ocidental não consegue mais esconder sua face. Países europeus muito ricos, por exemplo, estão fadados a se tornarem países islâmicos em pouco mais de meio século. Isso porque, enquanto uma família francesa típica tem colocado no mundo apenas um filho, os imigrantes de descendência árabe têm em média três pequeninos franceses por núcleo familiar. Mesmo os Estados Unidos só conseguem manter sua população jovem em crescimento graças aos imigrantes latinos que cruzam a fronteira à procura de melhores oportunidades.
A problemática do mundo atual não é assunto para ser desvendado em uma entrevista, palestra ou algumas linhas de um texto blogueiro. A validade dos estudos feitos pelo sociólogo Domenico De Masi é, em grande parte, reconhecida e procedente. Talvez unindo-se a novas idéias, principalmente de estudiosos dos ditos países em desenvolvimento e subdesenvolvidos, que vivem tais realidades, elas possam ganhar ainda mais respaldo e críticas construtivas. De tal forma poderemos buscar soluções palpáveis que atendam de fato as necessidades por mudanças da nossa realidade.