Texto da colaboradora Mariana Laurindo
Já perdi horas pensando qual seria efetivamente o sentido e a razão de existir atualmente do casamento.
Logo que me separei questionei, até mesmo, a instituição como um todo. Reneguei a possibilidade de se lograr êxito em uma entidade moldada em padrões arcaicos e em desuso, quando o “eu” era subjugado pelo bem da sociedade e da família, pela ética e moral vigente.
Como, num mundo subjetivista, egoísta, como o que se apresenta, as pessoas podem suportar a chamada “infelicidade”, mesmo que passageira?
Como não sucumbir aos apelos e tentações incessantes, não crer ser possível alcançar a alegria perpétua, o prazer fácil e isento de culpas e ressentimentos?
Deveria, certamente, haver uma alteração intrínseca dos valores em voga, para que se fizesse possível manter um casamento de maneira satisfatória.
Não estou aqui, por outro lado, execrando os que, como eu, consideraram que o seu casamento não traria a felicidade almejada e saíram dele, nem muito menos incentivando aos que mantém relacionamentos falidos a se suportarem a todos custo.
Sobre sentimento e relacionamento não existe regra, já que por mais semelhantes que pareçam, nenhuma história é igual à outra. Apenas tento expressar algumas conclusões iniciais que alcancei após muito pensar sobre a minha separação, e o excesso de separações com que nos deparamos.
O que questiono, aqui, são os valores impostos diuturnamente por uma sociedade que impõe aos indivíduos um vertiginoso parque de diversões como única forma de felicidade, e cobra dos mesmos uma carga excessiva de trabalho para sustentar tal “alegria fugas”, que finda por alienar a nós todos do verdadeiro sentido da vida.
Apenas ilustrando, para não parecer que eu enlouqueci demais a ponta de não me fazer compreender: um indivíduo de classe média, casado, pai, trabalha exaustivas 10 horas diárias, afora o trânsito caótico e as refeições rápidas e muito pouco saudáveis, o que lhe suga todas as energias. Este cidadão chega em casa exausto, mas mesmo assim, ante a necessidade de se demonstrar feliz e bem sucedido, costumeiramente enfrenta maratonas sociais noturnas, juntamente com a sua esposa que, de igual sorte, trabalhou mais do que podia, e ainda se encarregou das tarefas domésticas. Os filhos, nenhum dos dois tem tempo, energia ou paciência para eles. A vida lhes dá prazer? De forma alguma. Sentem-se como que carregando o mundo nas costas. Enxergam em tudo um fardo insuportável o que acaba minando qualquer sentimento bom que os uniu inicialmente. Surgem, então, envolvimento banais, irresponsáveis, despreocupados, sem cobranças. Enganam-se achando que o fardo é sua família e dela se afasta, buscando fugas que geralmente passam por bares, boates, jogos, amigos(as) de igual sorte solitários.
E o casamento? Apodrece e morre, como não poderia deixar de ser.
Há exceções? Claro que sim! Graças a Deus!
Há casais que jamais deveriam sequer ter se casado. Que não combinam nos gostos, não possuem afinidades, que passado o passional impulso inicial, descobrem-se estranhos e às vezes até inimigos, impedindo um relacionamento harmônico e duradouro.
Há ainda pessoas que, a despeito de todos os clamores externos, todas as pressões sociais deturpadas e tentações fúteis, possuem uma afinidade espiritual superior, diferente dos demais. Pessoas que trazem conforto mútuo e que entendem e distinguem quais valores e sentimentos devem ser buscados e preservados.
Em verdade, de descrente virei uma defensora do amor e do companheirismo, porque não dizer: do casamento!
Acho possível, e isso só com vivência e maturidade, duas pessoas reconhecerem-se certas uma para a outra e conseguirem alcançar uma vida estável e, porque não dizer, feliz!
Como disse, assim, o primeiro requisito inafastável para tanto é a maturidade de ambos. Pessoas imaturas ainda passarão por vários processos evolutivos, infindáveis em alguns casos, que fragilizarão o relacionamento. Ressalto, ainda, que maturidade emocional nada tem a ver com idade cronológica.
A pessoa madura é aquela que se conhece, que já viveu situações variadas, algumas extremas, e tirou delas lições de vida. Que sabe do que gosta, sabe o que quer, sabe o que tolera e conhece muito bem o que abomina.
Uma pessoa madura, mesmo apaixonada, não se casará com ágüem cujo comportamento ou hábitos detesta, pois reflete sobre os sentimentos antes de tomar decisões e atitudes a princípio definitivas.
Além da maturidade, não se pode deixar de considerar, também como requisito para um casamento, a paixão, esta por mim modestamente definida como a necessidade física, mental e constante do parceiro. Não se pode casar com alguém sem desejar, por um bom tempo, a sua companhia como algo essencial para a sua sobrevivência. Parecer exagerado? Eu sou exagerada!
A paixão aproximará dois entes maduros que, além disso, devem possuir ainda um terceiro requisito, devem ter afinidades e gostos em comum. A identidade absoluta é impossível e enfadonha, mas gostar das mesmas coisas possibilitará a convivência menos apaixonada, com o passar dos anos, e mais amorosa a cada dia.
E ainda tem mais. Para que um casamento prospere não basta o respeito mútuo. Respeito temos que ter até com um transeunte desconhecido. É preciso ter admiração pelo companheiro. Deve-se ver no seu par alguém com quem se pode aconselhar, em quem se espelhar e se apoiar, sempre que necessário.
Depois de requisitos aparentemente tão rigorosos, pode até parecer um dissenso eu ter afirmado acima ser uma defensora do casamento.
Não tenho a pretensão, contudo, de ditar regras rígidas ou imutáveis. Como disse, as enormes diferenças entre as personalidades e o caráter das pessoas, entre as intensidades dos sentimentos, sempre criarão infindáveis variáveis imprevisíveis. Apenas creio que os requisitos que imaginei acima, uma vez atendidos, mesmo que não todos completamente, aumentam em muito a chance de se ter um casamento realmente feliz, com a formação de uma família sólida e equilibrada.
Ao mesmo tempo, e finalmente, penso impossível, pelo menos o foi para mim, simplesmente passar a vida suportando situações desagradáveis ou meramente suportáveis. Nada justifica disperdiçar a vida sem amor. Nem mesmo os filhos, que não podem carregar o pesado fardo de serem responsáveis pela amargura ou desventuras de seus pais. Nem o dinheiro, seja pela sua escassez seja pela sua abundância, é justificativa para sustentar um status, um casamento.
Ninguém deve ser obrigado ou se sentir impelido a suportar situações vexatórias, desagradáveis ou até violentas. Ninguém pode simplesmente ver a vida passar pela janela sem efetivamente vive-la.
Parece que estou cometendo o último desatino e mais uma vez me desdizendo. Mas a verdade é que, atualmente, temos que considerar que a busca subjetiva da felicidade é uma realidade com que temos que conviver, talvez se regozijando disso. Mas temos que viver essa busca de maneira madura e apaixonada.
Bem, devo mesmo ser a rainha do dissenso.
Mariana Laurindo é advogada
9 Comentários:
Hehehehehehehehehehehe!!! O que é um casamento mesmo?
Não tenho muita fé pelo matrimônio como uma instituição, mas acredito no sucesso "eterno, e por um bom tempo" de uma relação entre pessoas que se amam, no sentido puro do verbo. O amor pelo amor!
As pessoas são complexas, a realidade eh complexa. As relações, quaisquer que sejam, não poderiam se distanciar disso.
Ainda me acho, penso eu, estar na categoria dos amantes imaturos. MAs dá pra tirar muitas lições de cada coisa que me acontece. É um bom caminho!
Abraços
Mariana, felizmente e ao que parece mais e mais as pessoas estão estão partindo para uma busca mais objetiva e menos subjetiva da felicidade, da vida, de tudo em uma maneira geral.
O que é casamento? é apenas uma instituição que foi criada pelo homem para civilizar as relações, garantir bens, separar as coisas e as pessoas do poder ou não poder interagir. Na verdade sabemos que "casamento" é algo que não é tangivel ... o problema é que as pessoas querem que ele se torne realmente algo que ele não é: uma base de confiança/segurança.
Isso a gente consegue quando acredita em si mesmo, já vi por ai tanta mulher que quer casar, mas casar pra dizer que casou, ao menos isso, pra não se sentir excluida ou a olhos vistos pelos outros entrando nessa busca subjetiva do que é felicidade. A mesma coisa acontece com muitos homens.
A realidade é que ninguém é de ninguem, as pessoas mudam com o passar dos tempos, os valores.
Acredite, graças ao mundo capitalista/consumista rápido de hoje as pessoas estão tomando mais consciência de quem são e se questionando sobre, pricipalmente as mulheres com sua independência finaceira, já nao se subjugando à dominação de um marido "protetor". O oposto tb acontece, a verdadeira revolução social nunca esteve mais atuante como agora.
A questão central é auto estima, quem tem é feliz memso sozinho, uma pessoa sem auto estima não pode ir longe, não que eu fale que ficar só é uma boa, não é isso, mas melhor só do que mal acompanhado.
Em termos de relacionamento tá assim de gente interessante pra se conhecer nessa vida, é só não cair no lugar comum, se permitir conhecer, vejo tanta gente que fica nessa de minha relação acabou, meu mundo, sei que não é fácil, mas quando a gente muda o paradgima percebe o papel foruxo que está fazendo em certas ocasiões.
No fim das contas relaxar e parar de pensar em casamento pq se alguém não deu/não dá certo com vc, melhor que acabe logo pq perda de tempo realmente é triste.
Se o leite derramou, coloca um saco em cima, enxuga, passa água, limpa e deixa tudo novo.
Como já disse severino cavalcanti - e acho que foi a única coisa sensata que ele disse na vida - "quem tem idéia fixa é doido"
Concordo com ele, bola pra frente. Next.......
;)
Nunca li nada tão esclarecedor de um relacionamento saudável, parabéns pela clareza e coerência de idéias, Mariana.
Mariana, você tem toda razão em seu ponto de vista. O grande problema da humanidade atualmente é o imediatismo sem contar com uma outra enorme agravante: as convenções. Atualmente os relacionamentos ja se iniciam com a premissa: SE NÃO DER CERTO NOS SEPARAMOS..... as pessoas não se esforçam, as pessoas não se toleram ( a tolerância é zero), não existe um comprometimento, uma responsabilidade nos relacionamentos. Não fui casada, porém tive relacionamentos duradouros e pude constatar o funcionamento frágil deles, como eles fogem pelas nossas mãos e ao nossos olhos.Acredito que fora a nossa vida tão corrida e cansativa, o ser humano de um modo geral esta discrente em relação ao amor e a credibilidade. Parabéns pelo seu depoimento. Beijo grande
Andrea Interaminense
... e eu continuo baseado em Cazuza :
" VIVER A LIBERDADE, AMAR DE VERDADE ... SÓ SE FOR A 2! "
(tem mistério não)
Abraços,
Angolla
... e Gerald,
Lendo seu comentário, eu me lembrei de um lance que normalmente neguinho fala quando acaba um relacionamento, a velha frase :
" Agora vou cuidar é de mim, agora sou eu ... é a minha hora! "
Já escutou isso também?
Engraçado, né maluco?!
Cuidar de si mesmo é um princípio básico, obrigatório!
Dá até vontade de responder " Você está atrasado, já devia ter feito isso há muito tempo! "
Impressionante como algumas pessoas colocam a felicidade nas mãos dos outros, cara!
Bora nessa ... e como você mesmo diz ... NEXT :)
Angolla
Pois é Angolla ..minha felicidade não está na mão de ninguem bicho ... a gente tem que ser feliz consigo, não projeto nada nos outros, não quero ser os outros e por ai vai.
Sou original total ...alguns dizem putz vcé muito frio e calculista. Eu? eu não, eu apenas me amo ... o pior é que as pessoas se espantam com isso, pode? e acredite vou amar muito alguém que se valorize assim, que me cause admiração.
;)
Mari, acho que você está certa na maioria de suas considerações, mas, na minha opinião, as dificuldades existem em qualquer vida a dois e devem ser identificadas e destruídas em benefício do casal e sobretudo da felicidade familiar. A manutenção do equilíbrio familiar deriva-se, principalmente, do respeito mútuo. O respeito preserva o amor e a admiração que uniu o casal inicialmente. A felicidade e o sucesso do casamento são construídos dia-a-dia por ambos.
Um beijão e muita felicidade para você.
Renata Alcoforado Rabelo.
uau
alucinante
Mais um achado nesse blog!
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