IDEOLOGICAMENTE SOCIAL
Qualquer sociedade, por menos evoluída que seja, possui suas regras, costumes, valores e crenças. Todos esses conceitos derivam de fatores que estão presentes em uma sociedade, cujas bases encontram-se fincadas historicamente de forma encadeada em tudo que se percebe nesse grupo de pessoas: aspectos políticos, econômicos, culturais e filosóficos.
Naturalmente que, em se tratando de um grupo heterogêneo de pessoas - com diversas formas de pensar e valores culturais diferentes, haverá sempre minorias, que compartilham de tais valores e tradições. Porém isto não significa que estejam à margem do que se chama de sociedade. É apenas a constatação de que todo grupo social é composto de uma grande diversidade de costumes, crenças e estilos de vida. O ser humano tem essa característica: de ser tão parecido com seu semelhante quanto diferente. Entram em questão os fatores respeito e individualidade. Minorias devem ser respeitadas. Assim como devem buscar e lutar pelo respeito. As pessoas devem respeitar para poderem exigir respeito. É certo que isto não acontece de forma perfeita o tempo todo. Mas é de se ressaltar que não há ser humano perfeito.
No grande esquema que é o viver em sociedade, o desafio maior de cada indivíduo talvez seja o de manter seus próprios valores e princípios diante de toda pressão que é exercida pelas influências do conjunto de idéias, costumes e princípios maiores que norteiam a sociedade onde ele vive e que se chama Ideologia.
Em qualquer sociedade há sempre um esquema de divisão das pessoas que a compõem em classes: as chamadas classes sociais. O comum no mundo ocidental é haver uma similaridade extrema entre a divisão das classes de uma sociedade e a participação econômica que cada uma representa. Isto significa que a classe social mais "alta" tende a ser também a mais abastada. Enquanto que a grande maioria dos componentes faz parte da classe baixa, base do que se convencionou chamar pirâmide social: retrato impiedoso da desigualdade existente no mundo globalizado.
A classe social mais alta, ou elite, que geralmente representa em torno de 5% dos indivíduos da sociedade, justamente por deter mais da metade da riqueza disponível, tem em suas mãos o poder de ditar regras e criar costumes. Ou pelo menos exercer forte influência nas demais camadas sociais. Seja através dos meios de comunicação de massa, seja por meio da opressão pura e simples, ou de um longo e elaborado esquema de controle ideológico cujas sementes foram plantadas há séculos quando do surgimento do Capitalismo e posteriormente regadas pelos ideais de igualdade, fraternidade e solidariedade da Revolução Francesa. Mesmo o Socialismo que surgiu posteriormente em defesa dos proletários miseráveis da Europa, e que, em tese, almejava a perfeição da sociedade, sucumbiu ao ser hibridizado em regimes totalitários em diversas partes do planeta. O resultado foi a divisão do mundo entre regimes de esquerda e direita e um posterior e longo período de guerra fria entre esses dois pólos ideológicos.
A elite burguesa do mundo ocidental, capitalista e cristã em quase sua totalidade, não demorou a entender a ameaça que representavam as idéias de Marx e Engels para a economia do capital, onde o dinheiro gerava dinheiro e o lucro era sempre crescente. Foi inventada a "social democracia" para apaziguar o proletariado ao mesmo tempo em que se iniciou uma forte e constante propaganda ideológica para manter as classes baixas sob controle. Nesse ponto a Igreja ajudou bastante. "Deus quis assim."
A falsa idéia de liberdade permeou a grande massa a partir de então. Mas que liberdade será esta? Certamente não uma liberdade igual à desfrutada pelos membros da elite, que possuem muito dinheiro e poder. Para o "bom proletário" que não reclama exageradamente e cumpre com seus deveres, há uma liberdade "genérica", parecida com aquela da elite, com os confortos semelhantes, privilégios parecidos, e aparentemente vantajosa. Por tal privilégio se mata e morre. Se trai, engana, mente, desaponta, rouba.
Com o passar do tempo o normal é exatamente jogar o jogo da vida de acordo com as regras determinadas pela Ideologia dominante. Que espelha os ideais da elite e em nada confortam e satisfazem as necessidades das demais classes sociais. E, por haver sempre a falsa possibilidade de ascensão social, uma legião de esperançosos permanecem na luta infrutífera para seguir sempre em frente e alcançar o topo. 1 em cada 500 milhões obterá êxito. É praticamente a regra do princípio homeopático. Depois de algumas gerações, quase ninguém percebe o que está por trás da Ideologia. Os ideários de cada um já estão contaminados com os princípios e valores da elite, que lhes venda os olhos para muitas de suas reais intenções.
Na verdade, pelo simples fato de que toda a nossa realidade é construída lastreada ideologicamente pelo sistema de capital, fundamentado nos princípios da elite, é provável que não seja possível escapar por completo das sensações que essa "Matrix" nos impõe. O senso comum dá as ordens, todos seguem por ela. Mas impossível também é se descartar a importância de desenvolver um senso crítico que ultrapasse algumas barreiras que nos são colocadas. Ver além delas as vezes significa a diferença entre ser uma pessoa qualquer e um ser humano melhor.
20 Comentários:
cenário soturno este o nosso. eu mesmo passei quase minha vita toda tentando alcançar o mais alto possivel. nao sou um frustrado por não ter conseguido. hoje em dia estou até bem. feliz. com a vida organizada. mas a verdade é que sempre há aquela sensação de que precisamos ter mais e mais. isso nunca acaba. hoje em dia prefiro olhar a vida com os olhos mais complacentes e procurar curtir mais da melhor forma possível, dentro do limite que eu sou capaz. numa boa. porém de olhos abertos. cada vez mais.
O texto destrincha com perfeição e simplicidade o que tenho discutido com alguns companheiros de blog (e até amigos e parentes). Se por um lado a minha atenção dada ao assunto possa parecer "neura" - como para o caro Angolla, para mim fica a sensação de que eu, como indivíduo, estou fazendo algo para, pelo menos, melhorar a criticidade em mim mesmo e nas pessoas que me rodeiam.
É muito frustrante saber que a maioria das pessoas não sabe distinguir os fatores (internos dos externos) que compõem seu ideário e a Ideologia que nos envolve. Seguem alienados, repetindo posturas, emoções e a própria identidade.
PASSO ...
Vou esperar o próximo 'post' ...
E Clayton,
Gostei da sua última frase (a última), onde você destacou um raro valor, que é "ter personalidade"!
Abraços,
Angolla
Porém uma ressalva. Há uma grande diferença entre identidade e personalidade. Esta última, citada pelo post acima do Angolla, todos temos. Contudo, quando falo em "própria identidade" estou me referindo à autonomia crítica.
Completando:
Angolla, entendo bem o que você falou. "Ter personalidade" ou "autonomia crítica" são valores fundamentais.
Abraço
Acho que minhas colocações feitas nos comentários do texto Tubarão são pertinentes quando atribuem parte significativa da alienação ideológica às religiões e às grandes mídias. Porém, pelo que li neste post, eh bem mais complexo que isso.
Por um ligeiro momento me senti um pouco idiota por ser inevitavelmente vulnerável à esse sistema, mas logo depois pude degustar um pouco de orgulho por ter consciência disso.
Belo texto!
Pedro Moraes.
E Clayton,
Fundamentais somos nós :)
Angolla
Prefiro não acreditar que seja falsa a possibilidade de melhorarmos financeiramente e, quem sabe um dia chegar ao topo. Obviamente é dificil conseguir isso, mas conheço casos que conseguiram ficar riquissimos.
Também o senso comum não devia ser encarado como vilão. Muitas vezes ele existe por algum motivo certo, direito. Há coisas socialmente inaceitaveis que são moralmente também inaceitáveis. Não discarto o senso critico e sua importancia. Muitas coisas são reprimidas pelas pressoes sociais e na verdade existem apenas para oprimir ou calar algumas vozes.
O texto está legal meus parabens.
Ei, não descarto totalmente a possibilidade do crescimento financeiro. Mas sim a idéia que se espalha de que isso é viável para todos que vão à luta. Não é tão simples assim, né? E a elite que mencionei não é rica de alguns milhões de dólares não... é beeeeem mais acima disso.
Concordo também que o senso comum não é necessariamente o vilão. Mas ele precisa ser balanceado com o senso crítico, ou então nos tornamos meros repetidores de condutas sem ter a exata consciência do que elas representam. Me recuso a ser assim.
Quanto a Angolla... bem, sua atitude não me espanta.
Oi Sérgio,
Fico tranquilo sabendo que você já me conhece melhor!
Abraço,
Angolla
Cláudio Max,
Gostei MUITO do seu comentário, curto e realista!
Abraço,
Angolla
Angolla, achei que vc seria um dos mais entusiasmados em debater sobre ideologia e afins, mas pelo que vejo vc parece não ter muito o que dizer, acrescentar ou discordar.
Bem, posso entender que seu ponto de vista foi abalado?
Oi Clayton,
Não, eu não diria abalado ... recolhido seria mais apropriado, sacou?
Tratando-se especificamente da ideologia apresentada e até "sugerida" pelo Sérgio, eu prefiro apenas endossar o comentário do Cláudio Max (muito bom, isento de radicalismos) e vou continuar aguardando pelo próximo "post", conforme já tinha optado!
Deixo vocês nessa mesma estação ... nos encontramos na próxima ;)
Abraços e bom final de semana para todos ... (possivelmente embaixo d'água)
Angolla
(o problema era na senha)
Sérgio e Klever,
Somente agora que abri o Gmail, vi uma notificação automática com alteração de senha, então por isso que eu só estava conseguindo deixar os meus comentários através da opção "anônimo"!
Fiz um teste e deu certo; se outras pessoas tiverem o mesmo problema, peçam que verifiquem a questão da senha no Gmail ...
Abraços Centrifugados :)
Angolla
A questão, Angolla, é que a "ideologia apresentada e até 'sugerida' pelo Sérgio", não é algo que SÉRGIO tirou da cachola. Vá estudar e veja que o CONCEITO de Ideologia passa por aí. Não sou radical. Sou capitalista (não que isto seja opcional), respeito o senso comum, mas não me permito viver submerso nele como se fosse um acéfalo sem noção do que realmente se passa ao meu redor.
Até a próxima estação. Não perca o "trem".
Sérgio,
Impressão minha, ou você está se irritando com os meus comentários, inclusive já começando a perder a postura?
Se for o caso diga, porque cáio fora dessa pôrra aqui ... sem problema algum!
Só não sou obrigado e não tenho porque que aceitar os seus conceitos, apenas os respeito! Me viro bem demais com os meus, e nem por isso tento mostrar ou impor NADA a ninguém, muito menos ofender os outros!
Você sim, você acabou de perder o trem nesse seu último comentário ...
Angolla
Não estou estabelecendo conceitos MEUS. É isso que vc parece não entender. Não estou sendo radical, ou inventando conceitos e teorias. E não leve para o lado pessoal. Continue nessa pôrra aqui.
OLHA A BRIGA DE COMADRES, GENTI..
DELETA LOGO ESSE OGRO D'ANGOLA [QUE FOTO PÔDI] E PRONTO, APROVEITA E DELETA A RÃ TAMBÉM , E O OUTRO BABACA DE NOME FEIO.
DEIXA QUE EU COMENTO COISAS MAIS INTELIGENTES.
COMO DIZ CAZUZA. IDEOLOGIA, EU QUERO UMA PRA VIVER
ALIEN, O ÚTIMO PASSAGEIRO
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk!!!
Percebe-se!
Oi amigão até q fim apareci. Seu texto tá bem elaborado c/ sempre. Parabéns!
Apesar de ser tudo verdade o q vc escreveu, eu gostaria muito de ser uma dos poucs q conseguem ascensão, ou melhor luto por isso. Sabemos q ñ é fácil, c/ vc mesmo falou, a ideologia dominante, os 5% dos "riquíssimos" estão sempre "por cima", ñ abaixam a crista p/ ninguém, e nós ñ conseguimos mudar td, ou melhor ñ mudar quase nada, mas, pessoas c/ vc de certa forma contribui p/ essa mudança, pois esses textos teus do blogger, além de informar, esclarecer, tabém denúncia muitos problemas sociais, ajudam a tirar o "tampão" dos olhos e até das bocas de muita gente, e isso é muito bom!
E mesmo cientes q somos minoria, ñ calamos diante dessas dificuldades, até porque esse é um problema mundial, ñ se limita ao brasil, mas, ao mundo!!!
Bjs....
Postar um comentário
<< Home