CENTRÍFUGA

7.10.06

ARTE EM PE

Vivo num Estado brasileiro reconhecido, em grande parte, por sua rica cultura. Tal reconhecimento vem, inclusive, d’além-mar. Mas a questão cultural pernambucana não vai muito bem das pernas na verdade.

Você leitor que mora em Recife, por exemplo, certamente já passou pela experiência de receber algum amigo de fora. Natural que você queira lhe apresentar a cidade, sua cultura peculiar, os pontos turísticos, a culinária típica. Há, de fato, vários bons restaurantes e um considerável número de lugares interessantes; tanto criados por Deus, quanto legados a nós pela História. Até aí tudo bem. Mas na hora que tentamos encontrar algum espetáculo de dança, de música pernambucana ou qualquer manifestação de nossa cultura, para levarmos nossos convidados, começa uma verdadeira caçada ao inexistente. Você encontra samba, pagode, rock, ritmos cubanos, brega do Pará, dança de salão, strip-tease etc. Mas não existe uma programação fixa semanal que mostre nosso maracatu, frevo, coco, ciranda e forró pé de serra, apenas para citar uns poucos exemplos. Exceções como a “Terça Negra” e alguns outros projetos em funcionamento nos bairros das periferias não obtêm uma divulgação satisfatória junto à população local e muito menos aos turistas, que muitas vezes vão embora com a impressão de que faltou alguma coisa.

A iniciativa privada parece não acreditar na rentabilidade de tais empreendimentos. Poucos atuam neste sentido. O governo limita-se a pulverizar uma verba mirrada aos milhares de projetos culturais, blocos, agremiações, clubes e iniciativas populares de manutenção e desenvolvimento da nossa cultura. E sabe-se muito bem que nem sempre essa verba chega ao desfino para o qual foi designada.

Quando chega o Carnaval é uma “festa”. Algum dinheiro surge, para que se propicie pelo menos mostrar o mínimo. Reciclam-se as fantasias do passado e os blocos ganham as ruas para fazer de conta que tudo é uma maravilha. Mas até quando esses destemidos e incansáveis Caboclos de Lança da nossa cultura irão resistir à falta de apoio político que impera em nosso Estado?

Fazer arte é difícil em qualquer lugar do mundo onde o capitalismo dita as regras e faz com que se pasteurize a cultura num formato comercial. Mais difícil ainda num país como o Brasil, onde sequer a arte é uma prioridade. Pior ainda em Pernambuco onde, além de não ser prioridade, sofre com o desdém velado das grandes empresas e do governo.

Sergio Dourado

5 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Acho que falta investir mais em mídia, sabe-se que esta tem grande poder sobre a massa, portanto, não vejo outra alternativa.

10:31  
Anonymous Anônimo disse...

Acho que falta investir mais em mídia, sabe-se que esta tem grande poder sobre a massa, portanto, não vejo outra alternativa.

10:32  
Anonymous Anônimo disse...

Realmente PE deixa a desejar neste aspecto, os pontos turisticos que são poucos estão cada vez mais apagados e cobertos pelo esqucimento... Como falou nosso amigo Rodrigo a midia tem feito pouco por estes integrantes de grupos que na verdade ate vendem uma imagem do "Brasil Feliz", eles escrevem a historia mas so ganham importancia de quatro em quatro anos... um absurdo...
Abraços

01:55  
Blogger Angolla _\|/_ disse...

... e por quê será?

Curioso que PE sempre arrastou essa fama de ser medíocre no turismo e muito devagar com a cultura regional, uma suposta fama que na verdade já virou fato há muitos!

Qualquer outro estado do Nordeste e com menos recursos próprios, está à nossa frente ... vejam por exemplo o Rio Grande do Norte, o Ceará, até mesmo a Paraiba, no entanto o nosso Pernambuco sempre atrasado, sem as divulgações necessárias, sem atrações específicas, sem direcionamento, "parece" até que existe uma barreira proposital, um verdadeiro RANSO dos governos anteriores que ainda soa "não bula aí não", só pode!!!

Sim, e o que esses governos anteriores fizerem a favor da nossa cultura, da nossa arte? O que MARCO MACIEL fez a favor de Pernambuco durante todos esses longos anos? O que CADOCA fez mesmo no contexto geral??

Todo mundo diz que Pernambuco "tem a faca e o queijo na mão" ... e é verdade! O queijo, qualquer um de nós aqui conhece bem demais; o problema então é com quem está a faca e que NUNCA soube usa-la da forma correta ... os interesses são outros, moçada!

Os próprios artistas locais que o digam! Todos eles sabem que Pernambuco não dá futuro, não proporciona e nem valoriza a arte em geral; alguns amigos meus nascidos e criados em Recife tiveram que "disparar" para o Rio ou São Paulo, tiveram que "pedir a benção" no sul do país, caso contrário morreriam velhos fazendo shows em pequenas casas noturnas!

Para quem conhece Gustavo Travassos (meu grande e velho amigo), sabe da dificuldade que é imposta até mesmo pela própria Ordem dos Músicos, registros, cadastros, filiações, etc, e notem que Gustavo é filho do Sr. Eneas Freire, o FUNDADOR do Galo da Madrugada!

Conversem com Gustavo que vocês poderão ter uma real dimensão do que efetivamente acontece nessa esfera ... é para deixar qualquer um de nós de bobeira, podem acreditar nisso! Conversem também com Roger da sopa ... outro que entende e pode explicar exatamente esse mecanismo, os caprichos das gravadoras, as armações que cercam todo esse universo, das rádios aos palcos!

Aí eu pergunto: o que fazer para mudar isso também?

MUDAR ... ainda acho que é a palavra mais dita e apontada atualmente no Brasil ... MUDAR, MUDAR e MUDAR!



Abraços e boa semana para todos!

Angolla

14:33  
Blogger CENTRÍFUGA disse...

Pois é Sérgio!

Essas discussões e relexões sobre Cultura, arte sempre merecem espaço. Pena que não faz parte de interesse dos Governos ou de empresas, porque há um maior interesse em outras esferas.

Num estado como Pernambuco que permite seus artistas serem reconhecidos fora daqui, ou terem que se dirigir para outros centros, ficamos nos preguntando porque?

Porque não há interesse em contribuir em patrocínios, existe leis de incentivo, mas uma minoria consegue apoio aos projetos. O artista, seja musico, ator, tem de se preocupar em sair atrás de grana apra poder levar sua arte ao público, muitas vezes, dificultando o seu processo de criação.

O pior de tudo é conseguir espaço na mídia apra divulgar os trabalhos.Preocupam-se os governantes só com o momento, exemplo é a comemoração dos 100 anos do frevo de 2007, dança, teatro e música abordam este assunto e recebem apoio e mídia oq ue é louvável, mas e as outras formas de expressão como fica,?

E assim seguimos, lutando apra que a Cultura, arte e educação ganhem espaço merecido!

Klever Schneider

15:06  

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