UMA MÚSICA BRASILEIRA
A música popular brasileira tem seus altos e baixos ao longo de sua história. Revezam-se picos de extrema criatividade, com surgimentos de novos talentos e períodos de quietude, com extrema timidez na produção artística inovadora. Grande parte da culpa desses períodos menos férteis se deu por conta da implacável política de radiodifusão brasileira, atoladas na prática do “jabá”, assim como do grande período em que vozes e espíritos foram silenciados pela pressão da ditadura. Ainda assim, mesmo que por metáforas, grandes expoentes artísticos brasileiros continuaram exercendo o direito de produzir arte.
Mesmo a efervescência da Bossa Nova, taxada muitas vezes de alienada por conta de uma vertente de compositores que cantava sambinhas sobre barquinhos e as belezas cariocas, não pode deixar de ser avaliada como positiva, tendo em vista o grande valor que representou no âmbito maior que é a MPB. Assim como ajudou na difusão mundial da música brasileira que se deu pela proximidade que a Bossa Nova tinha com o Jazz e imensa inspiração de seus representantes como Vinícius de Morais, Tom Jobim, Carlos Lyra, Baden Powell, João Gilberto e Marcos e Paulo Sérgio Valle, apenas para citar alguns.
Hoje em dia, ao contrário de muitas riquezas musicais brasileiras como o Frevo e outros ritmos regionais menos privilegiados pela mídia nacional, o Samba e a Bossa Nova continuam num processo constante de aprimoramento e hibridização saudável. O projeto Bossacucanova, de Alexandre Moreira, Márcio Menescal e Marcelinho da Lua, é prova de que a Bossa e a MPB se misturam perfeitamente com o jazz eletrônico altamente em voga na Europa, Estados Unidos e Japão. Artistas brasileiros pouquíssimos conhecidos (e reconhecidos) na própria pátria, têm carreiras internacionais a dar inveja a muitas bandas e cantores do mainstream europeu (leia mais no texto anexo). Tal fato se dá também pela inundação do mau gosto popularesco presente na atual produção musical brasileira, mantida por uma indústria cultural que massifica produtos desprovidos de qualidade. O foco é o lucro. Muitos não param para pensar por que gostam de certas bandas de brega, axé e forró estilizado. Será que o fato de essas “coisas” poluírem todos os ambientes possíveis e imagináveis onde quer que vamos influencia no processo? Sem falar da maioria das rádios, que entopem as suas programações com esses estilos ou com o velho pop internacional e seus hits de um mês ou dois de vida útil antes de se tornarem enjoativos. E vamos ficando todos com um gosto musical empobrecido.
O que não é compreensível é a falta de visão de muitos que detêm o poder da mídia no Brasil. Não enxergam que há sim um público que aprecia uma música de boa qualidade. Também difícil de entender o receio de insistir em dar o justo apoio àqueles que ainda tentam produzir uma arte musical inovadora e de qualidade em nosso país. E não estou falando em nossos ícones Caetano, Chico e Milton. Estes estão sempre com tudo. Falo de Seu Jorge, Farofa Carioca, Pedro Luís, Mart’nália, Bebel Gilberto, Lula Queiroga, os rapazes do Bossacucanova, entre tantos outros. É inevitável uma pergunta: até que ponto iremos descer o nível até que se faça alguma coisa?
Mesmo a efervescência da Bossa Nova, taxada muitas vezes de alienada por conta de uma vertente de compositores que cantava sambinhas sobre barquinhos e as belezas cariocas, não pode deixar de ser avaliada como positiva, tendo em vista o grande valor que representou no âmbito maior que é a MPB. Assim como ajudou na difusão mundial da música brasileira que se deu pela proximidade que a Bossa Nova tinha com o Jazz e imensa inspiração de seus representantes como Vinícius de Morais, Tom Jobim, Carlos Lyra, Baden Powell, João Gilberto e Marcos e Paulo Sérgio Valle, apenas para citar alguns.
Hoje em dia, ao contrário de muitas riquezas musicais brasileiras como o Frevo e outros ritmos regionais menos privilegiados pela mídia nacional, o Samba e a Bossa Nova continuam num processo constante de aprimoramento e hibridização saudável. O projeto Bossacucanova, de Alexandre Moreira, Márcio Menescal e Marcelinho da Lua, é prova de que a Bossa e a MPB se misturam perfeitamente com o jazz eletrônico altamente em voga na Europa, Estados Unidos e Japão. Artistas brasileiros pouquíssimos conhecidos (e reconhecidos) na própria pátria, têm carreiras internacionais a dar inveja a muitas bandas e cantores do mainstream europeu (leia mais no texto anexo). Tal fato se dá também pela inundação do mau gosto popularesco presente na atual produção musical brasileira, mantida por uma indústria cultural que massifica produtos desprovidos de qualidade. O foco é o lucro. Muitos não param para pensar por que gostam de certas bandas de brega, axé e forró estilizado. Será que o fato de essas “coisas” poluírem todos os ambientes possíveis e imagináveis onde quer que vamos influencia no processo? Sem falar da maioria das rádios, que entopem as suas programações com esses estilos ou com o velho pop internacional e seus hits de um mês ou dois de vida útil antes de se tornarem enjoativos. E vamos ficando todos com um gosto musical empobrecido.
O que não é compreensível é a falta de visão de muitos que detêm o poder da mídia no Brasil. Não enxergam que há sim um público que aprecia uma música de boa qualidade. Também difícil de entender o receio de insistir em dar o justo apoio àqueles que ainda tentam produzir uma arte musical inovadora e de qualidade em nosso país. E não estou falando em nossos ícones Caetano, Chico e Milton. Estes estão sempre com tudo. Falo de Seu Jorge, Farofa Carioca, Pedro Luís, Mart’nália, Bebel Gilberto, Lula Queiroga, os rapazes do Bossacucanova, entre tantos outros. É inevitável uma pergunta: até que ponto iremos descer o nível até que se faça alguma coisa?
VOZES DESCONHECIDAS
Bebel Gilberto, Bïa Krieger, Luca Mundaca, Cibelle Cavalli, Marcela Mangabeira. Você já ouviu falar dessas mulheres? É possível que não, tendo em vista que se tratam de cantoras brasileiras que, ou ainda não conseguiram seu espaço na grande mídia, ou já são conhecidas internacionalmente porém são completamente ignoradas pela mídia brasileira.
Bebel Gilberto, filha de Miúcha e João Gilberto, sobrinha de Chico Buarque e ex-parceira de composição de Cazuza, é figurinha carimbada nos Estados Unidos, Europa e Japão. Com quatro discos na carreira e alguns prêmios ela é quase uma desconhecida no Brasil. Mesmo caso de outras cantoras como Cibelle, Bïa Krieger e Luca Mundaca. A primeira já chegou até a fazer parte da trilha sonora do filme “O Jardineiro Fiel” com a deliciosa canção “Só Sei Viver no Samba”. Também já gravou com Celso Fonseca (outro talento que beira o desconhecido) “Ela é Carioca”, que integrou trilha sonora de novela global. Mas a falta de continuidade da divulgação fez com que passasse desapercebida pelo público.
Bïa Krieger é dona de uma voz doce e cadenciada. Divide-se numa ponte aérea entre o Brasil, sua terra natal, o Canadá e a França. Nem pense em escutar uma canção dela em algum lugar no Brasil (talvez no programa Sábado Som, da Rádio Capibaribe ou no som do meu quarto). Primeiro que metade do seu repertório é composto de versões em francês de clássicos da nossa MPB. E em segundo lugar, os quatro discos da cantora e compositora nem foram lançados no Brasil. Ela é sucesso de crítica na Europa e Canadá, mas pelo jeito não “boa o suficiente” para o delirante mercado brasileiro. Destaque para as canções “Mariana”, “Coer Vagabond”, que é uma versão em francês de “Coração Vagabundo” de Caetano Valoso e “Portrait en Noir et Blanc” releitura de “Retrato em Branco e Preto” de Tom Jobim e Chico Buarque. Chico aliás já elogiou publicamente as adaptações de suas canções ao Francês feitas por Bïa. Ave Chico.
A brasileira nascida no Chile, Luca Mundaca, teve seu início de carreira atrapalhado pelo 11 de setembro. A cantora e compositora havia assinado com a Atlantic Records e estava para lançar seu primeiro disco quando aconteceu o atentado terrorista. As tribulações decorrentes do fato levaram a Atlantic a dispensar muitos de seus artistas e Luca estava entre eles. Mas uma produtora independente americana, a Lumeni, resolveu apostar na moça e a enviou ao Brasil para produzir seu primeiro álbum: “Day By Day”, de 2004. A canção “Há Dias” foi escolhida em 2006 pela Putumayo World Music Records para integrar uma compilação batizada “Brazilian Lounge”. A repercussão foi tão boa que a Putumayo lançará mais uma canção de Luca, “Não se Apavore” este ano na coletânea intitulada “Women of the World Acoustic”, com direito a show de lançamento em Nova Yorque e tournê de divulgação do CD pelos Estados Unidos.
Por fim, é válido apresentar a cantora recifense Marcela Mangabeira. Ela é pernambucana mas começou sua carreira no Mato Grosso. Desde o início recebe prêmios por seu vocal suave e sua presença marcante. Já abriu shows de Zélia Duncan, Zé Ramalho e Paulinho Moska, tendo ainda acompanhado Roberto Menescal e o Bossacucanova em turnê pela Europa. Em 2003 emprestou sua voz aos discos “Ipanema Lounge”, do Bossacucanova e “Copa Bossa”, de Márcio Menescal, que tiveram lançamento mundial e uma ótima repercussão. Seu disco de estréia, “Simples”, foi lançado no Japão em 2005, onde Marcela é ovacionada como uma grande intérprete da moderna Bossa Nova. Apenas este ano o álbum chegou ao Brasil. Como disse Nelson Mota: "Marcela Mangabeira aparece como uma das melhores revelações do ano". Não discordo. Destaque para sua interpretação de “Os Grilos” de Marcos e Paulo Sérgio Valle e “Para Ti” de Marcio Menescal e Bernardo Bittencourt.
Bebel Gilberto, filha de Miúcha e João Gilberto, sobrinha de Chico Buarque e ex-parceira de composição de Cazuza, é figurinha carimbada nos Estados Unidos, Europa e Japão. Com quatro discos na carreira e alguns prêmios ela é quase uma desconhecida no Brasil. Mesmo caso de outras cantoras como Cibelle, Bïa Krieger e Luca Mundaca. A primeira já chegou até a fazer parte da trilha sonora do filme “O Jardineiro Fiel” com a deliciosa canção “Só Sei Viver no Samba”. Também já gravou com Celso Fonseca (outro talento que beira o desconhecido) “Ela é Carioca”, que integrou trilha sonora de novela global. Mas a falta de continuidade da divulgação fez com que passasse desapercebida pelo público.
Bïa Krieger é dona de uma voz doce e cadenciada. Divide-se numa ponte aérea entre o Brasil, sua terra natal, o Canadá e a França. Nem pense em escutar uma canção dela em algum lugar no Brasil (talvez no programa Sábado Som, da Rádio Capibaribe ou no som do meu quarto). Primeiro que metade do seu repertório é composto de versões em francês de clássicos da nossa MPB. E em segundo lugar, os quatro discos da cantora e compositora nem foram lançados no Brasil. Ela é sucesso de crítica na Europa e Canadá, mas pelo jeito não “boa o suficiente” para o delirante mercado brasileiro. Destaque para as canções “Mariana”, “Coer Vagabond”, que é uma versão em francês de “Coração Vagabundo” de Caetano Valoso e “Portrait en Noir et Blanc” releitura de “Retrato em Branco e Preto” de Tom Jobim e Chico Buarque. Chico aliás já elogiou publicamente as adaptações de suas canções ao Francês feitas por Bïa. Ave Chico.
A brasileira nascida no Chile, Luca Mundaca, teve seu início de carreira atrapalhado pelo 11 de setembro. A cantora e compositora havia assinado com a Atlantic Records e estava para lançar seu primeiro disco quando aconteceu o atentado terrorista. As tribulações decorrentes do fato levaram a Atlantic a dispensar muitos de seus artistas e Luca estava entre eles. Mas uma produtora independente americana, a Lumeni, resolveu apostar na moça e a enviou ao Brasil para produzir seu primeiro álbum: “Day By Day”, de 2004. A canção “Há Dias” foi escolhida em 2006 pela Putumayo World Music Records para integrar uma compilação batizada “Brazilian Lounge”. A repercussão foi tão boa que a Putumayo lançará mais uma canção de Luca, “Não se Apavore” este ano na coletânea intitulada “Women of the World Acoustic”, com direito a show de lançamento em Nova Yorque e tournê de divulgação do CD pelos Estados Unidos.
Por fim, é válido apresentar a cantora recifense Marcela Mangabeira. Ela é pernambucana mas começou sua carreira no Mato Grosso. Desde o início recebe prêmios por seu vocal suave e sua presença marcante. Já abriu shows de Zélia Duncan, Zé Ramalho e Paulinho Moska, tendo ainda acompanhado Roberto Menescal e o Bossacucanova em turnê pela Europa. Em 2003 emprestou sua voz aos discos “Ipanema Lounge”, do Bossacucanova e “Copa Bossa”, de Márcio Menescal, que tiveram lançamento mundial e uma ótima repercussão. Seu disco de estréia, “Simples”, foi lançado no Japão em 2005, onde Marcela é ovacionada como uma grande intérprete da moderna Bossa Nova. Apenas este ano o álbum chegou ao Brasil. Como disse Nelson Mota: "Marcela Mangabeira aparece como uma das melhores revelações do ano". Não discordo. Destaque para sua interpretação de “Os Grilos” de Marcos e Paulo Sérgio Valle e “Para Ti” de Marcio Menescal e Bernardo Bittencourt.
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7 Comentários:
Esse é o ponto principal, é a inundação que gera a popularização que vemos. Certos produtos se tornam sensação não por terem nada de especial (Black eyed peas), mas por terem um boa ajudinha do mercado.
Exemplo: o jeitinho que a Globo deu pra cantora Tânia Mara (cantora?!) estourar no Brasil inteiro com seu lamúrio sem pé nem cabeça.
Mas, apesar de tudo, não se deve ignorar que esse tipo de produto tem uma representatividade (não cultural), falo de que, por ser algo eleito pela massa, ele passa a diretamente representá-la, tendo seu valor por isso. Bossa Nova não tem valor pro povo Calipso tem, já que o Calipso representa o povo, e "é bom".
"E não estou falando em nossos ícones Caetano (...) Estes estão sempre com tudo." - Fala sério né Sérgio, Caetano tá dormindo desde os anos 60. Aquilo ali tá mais pra baixo que moral de deputado.
Há, e em 'vozes desconhecidas' falta citar a Céu. Ela teve no Altas Horas um dia desses e o povo ficou tipo: "Quem é essa?! Um cover de Vanessa da Mata?"
Mas pra mostrar vácuos culturais nem precisa ir muito longe, Los Hermanos (UHU!) por exemplo. A mídia foge deles que nem o diabo da cruz.
Se o nível sobe, a audiência desce. O que falta é letra pra esse povo todo, já dizia titio Paulo Freire!
Uau. nao conhecia essas cantoras mesmo. Maravilhosas.
O lixo comanda a programaçao de nossas rádios. uns dizem que e o gosto popular. nao caio nessa. é gosto do povao porque o povao tambem so ouve isso. é o tempo todo colocando isso ai pra esse povao ouvir. radio, sala de espera, elevador, padaria, cabelereiro, etc. Nao da outra: povo que so conhece isso nem sabe o que perde.
adorei as indicaçoes do final da materia. em especial a Bia. muito bom. onde encontro CD desse pessoal?
Grande Serginho Dourado!!! Parabéns por mais esse belo artigo, o qual nos inspira uma maior reflexão a respeito d nossa cultura, mais precisamente d nosas música. É um tanto quanto injusto saber q existem tantos artistas d verdade, tantos talentos q acabam sendo desperdiçados pela mídia, por preferirem investir em "besteiróis" q levem ao consumo d massa. Hoje em dia, infelizmente, é raro vermos a mídia dar destaque a artistas d qualidade... muito pelo contrário, os peitos e bundas têm ganhado mais espaço do que os dotes musicais em si! fazer o q? menos mal q ainda existam espaços d discussões como este, onde temos a oportunidade rara d ficar por dentro da realidade e poder refletir sobre ela... e o melhor d tudo, ñ ser mais um dentro do senso comum, dessa massa alienada pela "moda"... vlw pelas indiacções finais, mandou super bem!
(é nessas horas q dá prazer ouvir diariamente rádios como a tribuna FM, para poder conhecer e apreciar o q d fato merece ser chamado d MÚSICA)
Não vou mentir, assim como o Cláudio eu confesso, ñ conhecia essas garotas. Muito bom teu texto, às vezes somos tão influenciados pela massa, q ñ percebemos ou ñ procuramos perceber o quão de cultura nos envolve. Infelizmente, a mídia em sua grande maioria só enfoca o mundo "brega", e pior é q dá audiência, porém é bom saber q existe ainda pessoas q além de conhecer divulga essas belas cantoras. Valeu, Sérgio, bjão...
Olá Sergio, td bem?
Maravilhosa sua matéria com essa meninada fantástica. Ouço direto a Luca na Last.fm, ducaralho.
Gostaria de uma gentileza, com quem é o contato dela, queria saber do CD e mais informações sobre essa voz incrível. Sou manager da Banda Savana Jazz que tá no blogspot, confira lá.
Grande abraço!
Ops me esquecí meu nome é Santo(santobedendo@hotmail.com)
Abraço!
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