CENTRÍFUGA

2.11.06

DE MASI

“Eu estudo há quase 20 anos a criatividade e vi que não há lugar específico onde ela nasce. Os americanos tiveram a grande inteligência de atrair os criativos de todo o mundo, principalmente durante o facismo, o stalinismo e o nazismo. Milhares de intelectuais fugiram e a América os acolheu independentemente da ideologia, raça, sexo ou riqueza e lhes ofereceu os instrumentos e agora colhe os resultados disso tudo, pois é o país com o maior número de prêmios Nobel, maior número de laboratórios de pesquisa, bibliotecas, orquestras, teatros e um cinema extraordinário. Mas isso é fruto da acolhida que deu aos intelectuais.”
“...hoje os países se distinguem em três categorias: os que produzem idéias, os que produzem produtos e os que consomem. Os países dominantes produzem idéias, os países emergentes, como o Brasil, produzem bens materiais com base nas patentes elaboradas nos países potentes. E há aqueles países do terceiro mundo condenados a consumir. Hoje há mais supermercados nos países do terceiro mundo do que nos do primeiro mundo. O Brasil tem um número enorme de supermercados. Essa é uma coisa boa e ruim.”
“Um supermercado cria um emprego e destrói quatro. Esses quatro empregos estão nos pequenos negócios. Pequenos negócios na rua criam a civilização. Quando fecham esses pequenos negócios nas ruas chega a criminalidade.”
Trechos da entrevista do sociólogo Domenico De Masi no Programa Conexão Roberto D’Ávila, na TVE, em 08/07/1999.

Uma importante aquisição feita pelos americanos, desde meados do século passado, foi atrair para si um grande número de cientistas, pensadores e artistas do todas as partes do mundo. Porém o principal motivo de tal ação em larga escala, por parte dos yankees, se deu quase exclusivamente por conta dos interesses políticos e bélicos contidos nas experiências de tais ilustres e criativos imigrantes. Na verdade pouco interessava a ideologia, sexo, raça ou riqueza que possuíam tais intelectuais. Mas sim o que os mesmos tinham a oferecer ao “Tio Sam” como uma moeda de permuta.

Podemos facilmente compreender como os americanos chegaram tão rapidamente ao desenvolvimento da fissão nuclear. E como essa nova e criativa forma de produção de energia teve seu objetivo desviado primeiramente para uma formatação bélica, a fim de demonstrar uma superioridade estratégica diante dos inimigos dos aliados ocidentais.

Ressalte-se a esperteza dos americanos, em um momento de fartura econômica, que puderam se dar ao luxo de comprar a criatividade no mercado internacional de cérebros descontentes e perseguidos por suas pátrias. Porém, dessa ressalva, pouco há que ser comemorado pelo resto do mundo, que luta para adequar-se à globalização e ao capitalismo selvagem. Que empurra mercados emergentes a um segundo plano e produz guerras religiosas em nome do controle da produção de petróleo.

Se a quantidade de supermercados significa um termômetro tão eficaz para se identificar uma região emergente ou de “terceiro mundo”, como analisar o fato de que esses praticamente não existem em certos países do Oriente Médio? Talvez os escombros de alguns possam ser identificados ainda. Não creio que o desaparecimento de pequenos negócios e lojas de comércio esteja ligado diretamente com o aumento da criminalidade. Acredito que a falta de oportunidade que permeia a realidade de vários países seja a principal causa do aumento do crime e da violência. E isso ocorre nos países pobres e emergentes, tendo em vista suas lutas pela adequação às leis de mercado internacionais, impostas em grande parte pelo poderio econômico dos países centrais. E dentro dessa necessidade de participar do capitalismo globalizado, muitos países deixam de lado vários dos importantes aspectos sociais que precisam ser cuidados. Suas populações padecem da falta de oportunidade e dignidade.

A “civilização” não se limita à simples oportunidade de convivência entre as pessoas nas lojas e ruas. É, mais do que isso, uma demonstração social e política de que as pessoas são importantes e têm suas existências reconhecidas pelo Estado. É o ato permanente de proporcionar a verdadeira cidadania a todos.

A decadência ocidental não consegue mais esconder sua face. Países europeus muito ricos, por exemplo, estão fadados a se tornarem países islâmicos em pouco mais de meio século. Isso porque, enquanto uma família francesa típica tem colocado no mundo apenas um filho, os imigrantes de descendência árabe têm em média três pequeninos franceses por núcleo familiar. Mesmo os Estados Unidos só conseguem manter sua população jovem em crescimento graças aos imigrantes latinos que cruzam a fronteira à procura de melhores oportunidades.

A problemática do mundo atual não é assunto para ser desvendado em uma entrevista, palestra ou algumas linhas de um texto blogueiro. A validade dos estudos feitos pelo sociólogo Domenico De Masi é, em grande parte, reconhecida e procedente. Talvez unindo-se a novas idéias, principalmente de estudiosos dos ditos países em desenvolvimento e subdesenvolvidos, que vivem tais realidades, elas possam ganhar ainda mais respaldo e críticas construtivas. De tal forma poderemos buscar soluções palpáveis que atendam de fato as necessidades por mudanças da nossa realidade.


Sergio Dourado

5 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Aew sergio cuidado para não ser exportado... kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk... e ainda por cima levar seus companheiros de escrita e ideias tão boas e essenciais como um blog com discurssões e opniões sobre o cotidiano, a vida, o mundo...
Parabéns!!!

03:13  
Blogger GeraldTheSaint disse...

Muito bom esse post, perfeito, Sérgio se eles quiserem lhe levar pra América vá correndo, não seja bobo.

O Brasil é um pais dirigido por um semi analfabeto populista, arabista ... nosso futuro é mais que incerto. Concordo plenamente quando os franceses querem retirar o véu das cabeças das crianças e mulheres mulçumanas, o mundo ocidental não pode permitir um regresso nos direitos das pessoas... não pode se deixar descaracterizar.

Achei ridiculo tb quando os latinos no EUA criaram um hino em espanhol, muita falta de respeito por uma terra que aparentemente lhes dá tudo.

alguns podem pensar ..esse cara é muito de direita, mas não sou não ..vejam o que esse governo está fazendo com o patrimônio de milhoes de brasileiros, está dando de mão beijada a petrobrás da bolivia ao governo boliviano. E ninguém diz nada, eu não entendo isso cara, se fosse uma empresa americana duvido isso tivesse acontecido ..e o povo pagando essa conta ..e o evo morales falando ..o brasil precisa da bolivia ..precisa um cacete.... a petrobrás levantou aquela terra lá, nesses dias eles vão querer o acre de volta.

É o que eu digo sempre, tivesse um muro separando nosso país desses paises haveria mais empregos para brasileiros, eu vivi em são paulo e sei que lá está infestado de imigrantes do peru, venezuela, bolivia, trabalhando de graça e com conivência do governo que não faz nada contra. Eu entendo as razões dos americanos em construirem um muro pra isolar aquela área do mexico...imaginem daqui há uns anos os mulçumanos derrubando a torre eiffel como fizeram os talibãs derrubando os budas seculares no afeganistão pq aquele simbolo não faz parte da cultura deles.

Temos que ter muito cuidado, o facismo está tomando conta do mundo e estão deixando

15:44  
Blogger GeraldTheSaint disse...

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15:44  
Blogger GeraldTheSaint disse...

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15:44  
Blogger Angolla _\|/_ disse...

EITA PÁU ...

Logo eu para falar dos malditos Yankees?

Só de pensar na palavra "EUA" já fico noiado :)

Estive por lá apenas duas vezes; a primeira a passeio no "ôba - ôba" com a maior galera, e a segunda fui a trabalho, um curso em Dallas ... aí sim, finalmente convivi com os caras lado a lado e pude conhece-los bem, no dia a dia, sala com 20 participantes, eu o único Brasileiro enfiado entre Yankees, Ingleses, Indianos, Nepalenses e uma sapatão de Dublin que virou minha grande companheira de copos, todos os dias logo após as 17h quando os primeiros bares abriam perto do nosso "campo de concentração", ehehe ...

Definitivamente eu não gosto dos caras, do sistema deles, do jeito deles, da mentalidade, da forma que vivem, como pensam, de como olham e julgam os outros, enfim, um povo "PLÁSTICO" como chamei várias vezes conversando com alguns colegas do curso, óbviamente os colegas de "olho puxado" e que me dei muito bem com todos eles, até porquê nosso ponto de vista com relação aos Yankees era o mesmo ... Nós (os não-curtidores do Tio Sam), não conseguíamos extender a convivência com americanos fora da sala de aula (nem queríamos), e de certa forma isso criou uma solidariedade entre nós!

Resumindo, a convivência com os "plastificados" foi restrita a "você me dá o treinamento - você ganha e eu ganho também!" ... e nesse aspecto (mão à palmatória), os caras são bons, talvez os melhores no "worldwide business" ... sim senhor!

No mais, meu total desprezo aos Yankees :)


Abraços!
Angolla

09:46  

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