CENTRÍFUGA

9.3.07

CONTROLE

Talvez a mais poderosa forma de controle social seja realmente a mídia. Digo talvez, pois alguns regimes mais truculentos e totalitários impuseram suas vontades ao povo por meio da mera força coercitiva. Mas mesmo nesses casos a máquina da informação foi utilizada após o golpe para doutrinar e fazer calar os pensamentos individuais que não acompanhassem a ideologia no poder.

Nos regimes mais democráticos, ou fantasiados de democracia, há outras maneiras mais sutis de se obter o controle da massa. O primeiro fator que contribui em grande parte para que esse controle seja implantado é a falta de escolaridade da população. Isto é muito comum em países pobres ou em desenvolvimento. E tal tática é necessária para que a classe dominante permaneça no poder e disponha de uma grande massa ignorante pronta para trabalhar muito, ganhar pouco e se contentar com qualquer migalha a mais que consiga amealhar. A velha prática do pão-e-circo é muito utilizada para fazer calar os descontentes e desviar o foco do que realmente é importante.

A mídia brasileira, por exemplo, é, em quase toda sua totalidade, propriedade de uma fatia privilegiada da população, composta por empresários e políticos que já detêm o poder econômico. Não é necessário forçar muito o raciocínio para chegar à conclusão de que o que essa imensa máquina de comunicação nacional faz é alguma coisa além de reforçar os ideais da elite e manobrar o povo de forma que ele jogue de acordo com as regras do jogo em vigor. O jogo democrático-capitalista onde o que importa são questões como o lucro, PIB, mercado, economia, produtividade etc. Onde não há espaço para um desenvolvimento real do aspecto social. Um jogo que precisa dos 70% da população menos privilegiada pacificados e conformados com seus destinos servis, para que os interesses do topo da pirâmide sejam salvaguardados.

Há vozes que distoam desse discurso dominante em alguns periódicos e programas de rádio e TV com tiragens e espectadores pouco expressivos quantitativamente. Porém o potencial qualitativo dos assuntos e pertinência das discussões valem plenamente o esforço. Mesmo quando a mensagem ideológica é radicalmente oposta ao pensamento da elite e não têm sucesso em conseguir uma boa disseminação entre as camadas da população mais carentes de informação e diferentes pontos de vista.

Não se engane você, caro leitor, que acha que tem liberdade em pensar o que quiser. Muitas das coisas que cremos e propalamos são construções a nós impostas por fontes as quais muitas vezes nem percebemos existirem.

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Sergio Dourado

14 Comentários:

Blogger Diego Arcoverde disse...

Muito bem colocado o tema. Não é à toa que definem a imprensa como o 4º Poder, que muitas vezes exerce sobre a sociedade controle mais efetivo que os outros três. Tantos séculos se passaram e o panis et circenses ainda se mostra eficaz ao ponto de fazer com que a sociedade mais bem informada de todos os tempos se mantenha nesse limbo de conformismo.

20:01  
Blogger Angolla _\|/_ disse...

Oi Sérgio,


... quando você diz no final :

"Não se engane você, caro leitor, que acha que tem liberdade em pensar o que quiser. Muitas das coisas que cremos e propalamos são construções a nós impostas por fontes as quais muitas vezes nem percebemos existirem."



... nem sempre surte esse efeito, eu acho!

Quanto a essas "contruções a nós impostas", entendo que isso existe e funciona em qualquer parte do mundo; cabe a cada um de nós perceber o que efetivamente acontece, qual a verdadeira proposta e tirar o melhor proveito dessa condição ... inclusive valorizando e dando até retorno!

Assim entendo, e Sérgio, eu AINDA acredito que temos liberdade para pensarmos (e expressarmos) realmente o que quisermos, principalmente no nosso Brasil!

(novamente minha opinião)



Texto muito bacana, parabéns!

Angolla

20:28  
Blogger Sérgio Dourado disse...

E de que consiste sua opinião, Angolla? Que tantas fontes diversas você consulta para "tentar" chegar a uma conclusão a respeito das coisas?

Nesse ritmo corrido que vivemos mal dá tempo de acompanhar o que acontece no mundo por um JC, uma Veja e uma TV Globo. "Compramos" tácitamente uma ideologia pré construída, de notícias fragmentadas e muitas vezes distorcidas sobre o que venha a ser realmente a realidade.
Não há como fugir do fato.

Quem quiser continuar no sonho bom de que há liberdade de pensar, que continue. É uma opção infinitamente mais tranquila do que ter alguma consciência acerca das coisas que acontecem no submundo das entrelinhas.

Quem ainda não xeretou lá pelos links que coloquei ao final do texto, uma boa dica é colocá-los no favoritos e usá-los com alguma periodicidade. Mal não faz.

abraços calorosos!

00:17  
Blogger Angolla _\|/_ disse...

Hei Sérgio ...


... não vou, nem tenho o menor interesse em "xeretar" links com opinões que jamais mudariam minhas bases de existência e segmentos!

Sabe por que?

Porque OPTEI 'continuar no sonho bom de que há liberdade de pensar' ...


O submundo das entrelinhas ... esse eu deixo pra você!


Angolla

22:52  
Blogger Angolla _\|/_ disse...

... e respondendo à sua primeira pergunta :


Eu não consulto e nem procuro conclusões ... EU VIVO A VIDA ;)


Angolla

22:55  
Blogger Sérgio Dourado disse...

Como disse, essa é uma opção INFINITAMENTE mais tranquila. Viva sua vida, Mr. Anderson. Don't take the red pill.

08:28  
Blogger Sérgio Dourado disse...

ah... e quanto às entrelinhas... são ossos do ofício que escolhi seguir.

E viver a vida eu vivo também. Só não preciso deixar de percebê-la para fazê-lo.

Abraços.

08:30  
Blogger GeraldTheSaint disse...

Pois é tudo é relativo .. para alguns as coisas estão dominadas, para outros nem tanto ... mas é questão de perceber o mundo. A mídia sempre esteve e sempre estará na mão dos poderosos, inclusive os poucos veiculos ditos livres.

No planeta terra sempre vai haver hierarquia, sempre vai haver alguém mais poderoso, é certo, inclusive os que acreditam em Deus, seguem uma hierarquia, correto ? ou seja mesmo com Deus, temos que confiar nas fontes dele, e não se sabe 100% sobre isso.

Tudo é relativo sérgio ... algumas dessas fontes que vc citou pra mim não dizem muito .. cada um tem seus valores, não acredito 100% na veja ou na caros amigos ... acredito em mim, na minha inteligência, no que tem significado realmente pra mim, seja de direita ou esquerda ... aliás tenho horror a esquerda pq ela sempre reclama, reclama, mas quando chega no poder não faz nada de diferente mesmo (aliás faz parecer mas não é), vide lula, onde desde ontem estou com pulga atrás da orelha mais ainda, o governo brasileiro se esforça ao máximo em dizer que não há terroristas árabes na tríplice fornteira, o que foi provado ontem ser o contrário, embora o celso amorin jure de pés juntos que não ...acho que lula é mais libanês que brasileiro ....depois são os americanos que são paranóicos...sei não....

.... e assim caminha a humanidade ;)

09:04  
Anonymous Anônimo disse...

Relativo de fato. E as fontes que indiquei são apenas para que se possa conhecer os fatos por mais um ponto de vista além daquele que de forma massacrante nos é imposto por grandes veículos de informação (os quais já sabemos quais são). Ideologia por ideologia sou mais o meu ideário. Mas como construí-lo de forma coerente e não alienada? Creio que seja procurando saber das coisas por mais de uma fonte.

Isso dá conversa para mais de hora. Se quiser marcamos uma cervejinha e debatemos mais... hehehehe.

Abraços

PS. Muitas vezes, ao consultar aqueles links, também me pego não concordando 100% com o que dizem. Mas é importante observar uma ótica diferente sobre alguns assuntos. Não estou dizendo que o que está ali é a verdade absoluta. Deus me livre.

09:22  
Blogger Angolla _\|/_ disse...

Ahahaha, pode crer Sérgio!


No dia que você deixasse de perceber a vida para vive-la, meu velho, você estaria na viagem mais coerente e LÚCIDA da sua própria vida, consequentemente um dos homens mais felizes na terra!

Não tenha a menor dúvida disso ... seria um eterno passeio no "Yellow Submarine" :)


Abraço e topo a cerveja, sim!
Que tal sábado?


Angolla

18:54  
Blogger Sérgio Dourado disse...

Se viver a vida não é o que estou fazendo agora, não sei mais o que isso significa então...
Eu vivo a vida. Persigo meus sonhos. Luto pelo que acredito. Para tanto não preciso deixar de perceber o mundo ao meu redor. Graças a Deus não dependo de miopía para ser feliz.

22:58  
Anonymous Anônimo disse...

MESMO COM AS CITAÇÕES DE LINKS COMO O OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA NÃO GARANTE UM OLHAR MAIS AGUÇADO.
POR TRAZ DE UM PROGRAMA COMO AQUELE EXISTE TODO UMA MANEIRA DE PENSAR NO SENHOR ALBERTO DINES, QUE "ANALISA A IMPRENSA". SE PESQUISARAM UM POUQUINHO MAIS SABERÃO QUEM FOI ELE NO PASSADO.

REGINALDO

12:55  
Blogger Angolla _\|/_ disse...

Hei Reginaldo!


Nunca tinha ouvido falar nele, mas depois do que li a respeito .... SIM SENHOR, viu?

(gostei muito!)


Oh lá, de forma bem resumida :

"Alberto Dines (Rio de Janeiro, 19 de fevereiro de 1932) é um jornalista e escritor brasileiro.

Em seus mais de 50 anos de carreira, Dines dirigiu e lançou diversas revistas e jornais no Brasil e em Portugal. Leciona jornalismo desde 1963, e, em 1974, foi professor visitante da Escola de Jornalismo da Universidade de Columbia, Nova York.

Foi editor-chefe do Jornal do Brasil durante 12 anos e diretor da sucursal da Folha de São Paulo no Rio de Janeiro. Dirigiu o Grupo Abril em Portugal, onde lançou a revista Exame.

Depois de anos driblando a ditadura à frente do Jornal do Brasil, foi demitido em junho de 2004 justamente por publicar um artigo que contrariava a direção do jornal, ao criticar a relação amistosa de seus donos com o governo do estado do Rio de Janeiro.

Criou o site Observatório da Imprensa, o primeiro periódico de acompanhamento da mídia, que conta atualmente com versões no rádio e na TV.

Escreveu mais de 15 livros, entre eles Morte no paraíso, a tragédia de Stefan Zweig (1981) e Vínculos do fogo – Antônio José da Silva, o Judeu, e outras história da Inquisição em Portugal e no Brasil, Tomo I (1992).

Atualmente é pesquisador sênior do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Unicamp, onde foi co-fundador, além de coordenar o Observatório da Imprensa on-line e pela televisão."


... peso ;)

19:56  
Blogger Sérgio Dourado disse...

Reginaldo,

Acho que nada nos garante verdadeiramente o poder de conhecer as coisas realmente como são. O que se pode fazer é pelo menos buscar mais de uma fonte, para não terminar rezando piamente pela cartilha alheia.

Mesmo que pudéssemos ser testemunhas oculares de todos os fatos relevantes, duvido que a minha interpretação dos mesmos fosse 100% idêntica a daquele que estava do meu lado. Isso é normal quando se trata de pessoas. E confiar numa virtual objetividade, neutralidade ou imparcialidade de algum veículo de comunicação seria equivalente a acreditar no Coelhinho da Páscoa.

Um olhar mais aguçado passa também pelos olhos de quem lê. Além, claro, do que foi lido.

00:14  

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