CENTRÍFUGA

22.11.06

VIVER NÃO DÓI

Como todo bom internauta brasileiro que se preza, eu também mantenho um perfil no Orkut. Confesso até que há algumas comunidades criadas por mim (inclusive uma criada para a minha faceta DJ, por um amigo).

Na minha página inicial o que se vê, logo de cara (além da minha foto, claro), são dois textos. Um em inglês, que é a letra de uma música que muito significa para mim, chamada Compulsion, de autoria de Joe Crow. A versão que me conquistou é cantada por Martin Gore, que faz parte da banda inglesa Depeche Mode.

Em seguida vem um poema de Drummond, "Viver Não Dói". Esse poema diz como as coisas poderiam ou deveriam ser simples. Mostra como por vezes não encaramos a vida de forma correta. De como a vida é curta e como deveriamos nos ater prioritariamente ao viver, seja de que forma for. "Como aliviar a dor do que não foi vivido?"

Frequentemente uso as frases finais do poema como subtítulo no MSN. Elas dizem: "A dor é inevitável/O sofrimento é opcional". Várias pessoas ja chegaram para perguntar por que eu estava triste. E então eu expliquei que não sofro de tristeza. Enviei o poema para que não entendessem as frases fora do contexto.

Deixo esse poema aos leitores do Centrífuga, para uma reflexão. Até breve.

Viver Não Dói

Definitivo, como tudo o que é simples.
Nossa dor não advém das coisas vividas,
mas das coisas que foram sonhadas
e não se cumpriram.
Por que sofremos tanto por amor?

O certo seria a gente não sofrer,
apenas agradecer por termos conhecido
uma pessoa tão bacana,
que gerou em nós um sentimento intenso
e que nos fez companhia por um tempo razoável,
um tempo feliz.
Sofremos por quê?

Porque automaticamente esquecemos
o que foi desfrutado e passamos a sofrer
pelas nossas projeções irrealizadas,
por todas as cidades que gostaríamos
de ter conhecido ao lado do nosso amor
e não conhecemos,
por todos os filhos que
gostaríamos de ter tido junto e não tivemos,
por todos os shows e livros e silêncios
que gostaríamos de ter compartilhado,
e não compartilhamos.
Por todos os beijos cancelados,
pela eternidade.

Sofremos não porque
nosso trabalho é desgastante e paga pouco,
mas por todas as horas livres
que deixamos de ter para ir ao cinema,
para conversar com um amigo,
para nadar, para namorar.

Sofremos não porque nossa mãe
é impaciente conosco,
mas por todos os momentos em que
poderíamos estar confidenciando a ela
nossas mais profundas angústias
se ela estivesse interessada
em nos compreender.
Sofremos não porque nosso time perdeu,
mas pela euforia sufocada.

Sofremos não porque envelhecemos,
mas porque o futuro está sendo
confiscado de nós,
impedindo assim que mil aventuras
nos aconteçam,
todas aquelas com as quais sonhamos e
nunca chegamos a experimentar.
Como aliviar a dor do que não foi vivido?
A resposta é simples como um verso:
Se iludindo menos e vivendo mais!!

A cada dia que vivo,
mais me convenço de que o
desperdício da vida
está no amor que não damos,
nas forças que não usamos,
na prudência egoísta que nada arrisca,
e que, esquivando-se do sofrimento,
perdemos também a felicidade..

A dor é inevitável
O sofrimento é opcional.

Carlos Drummond de Andrade

Sergio Dourado

5 Comentários:

Blogger GeraldTheSaint disse...

Pois é Sérgio .. esse seu post complementa bem as considerações que fiz no texto anterior sobre casamento. O final do poema explicita bem isso:

"A cada dia que vivo,
mais me convenço de que o
desperdício da vida
está no amor que não damos,
nas forças que não usamos,
na prudência egoísta que nada arrisca,
e que, esquivando-se do sofrimento,
perdemos também a felicidade..

A dor é inevitável
O sofrimento é opcional."

É óbvio que para alguns é mais fácil, pra outros nem tanto, mas vida é experiência ... e quem está na chuva é pra se molhar ... uns mais outros menos. É preferivel arriscar sempre do que ficar na vontade ... e acreditem já quebrei muito a cara ..de uma certa maneira, mas é como diz o ditado: o que não nos mata nos torna mais fortes.

;)

23:56  
Anonymous Anônimo disse...

Perffeito
de onde vem tanta inspiração
mas é a pura verdade
como o amigo de cima mesmo comentou
tá na chuva é pra se molhar
mas bem q é verdade... sofremos não pelo q vivemos, mas pelo q muitas vezes deixamos de viver, sufocamos, prendemos aquilo...
oh...
até fui cutucada um pouco
e comecei as parar p pensar agora em qts vezes eu mesma não faço isso

"a dod é inevitável, o sofrimento é opcional"
Thayse

00:19  
Blogger cavaleiro_do_caos disse...

puts...acho q fui acertado mais uma vez (essas semanas têm sido duradouras e extremamenente dolorosas). Drummond pôs em papel tudo o que faz o humano sentir dor,falta e a magoa. Hj passou no fantastico uma reportagem sobre idosos que sofrem de depressão, e passou um palhaço que chorava pelos dias sem o calor das crianças e o clamor do público. Chorava pelo hoje frio e pelos dias brancos, dias sem cores...chora eternamnete pelo aplauso não dado a cada dia e pelo riso não doado. O tempo...quem sabe um dia ele não para.

23:29  
Anonymous Anônimo disse...

Poutz!
Essa de Drummond aí é muito legal.

Subiu mais um ponto no meu conceito, rapaz!

Toda vez que indico alguem esse blog a pessoa fica fã. (risos)

02:43  
Blogger Unknown disse...

Uma fã tia/Ana Lucia.
Segio orgulho de ser sua amiga.
Deixo mais questionamentos:
- Vivendo vamos...
mas será que vivenciando?

08:29  

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