CENTRÍFUGA

24.10.06

Manhã filosófica de frente para o espelho




Chega um dia na vida, em que você olha o espelho e se pergunta: (Ah! Isto vale também se você fica olhando para o teto, para um ponto qualquer, este questionamento vale independente da forma como você reflita sobre a vida.)

-O que foi que eu conquistei até agora?
Meia dúzia de amigos verdadeiros, dezenas de pessoas que não gostam de você, outros tantos que tomam proveito de sua amizade para conseguirem alguma coisa (Talvez você responda na mesma moeda!), alguns que apertam a sua mão e em outros cantos usam álcool para desinfetar as mesmas mãos que ficaram próximas as tuas e tantos imbecis que não vou dar ao luxo de classificá-los. (Não vale a pena!)
Enfim o espelho serve de amigo nestas horas.
Outro dia pensara: Antes o espelho do que o travesseiro! Sim, o travesseiro, serve para agüentar nossa cabeça cheia de tantos pensamentos, mas se perdermos nosso tempo com tanta filosofia de botequim, ficaremos reféns da insônia.
Então, melhor o espelho. Pois nada como vermos nossa imagem. Mas que imagem deixamos?
Talvez você já tenha escutado:
-“Os outros tem uma imagem do que somos, existe o que pensamos que somos e o que realmente somos.” (Mais uma vez a filosofia frente ao espelho)
Mas além dos amigos que você tem o que mais conseguiu?

Um emprego em que você repete todos os dias compulsivamente às mesmas coisas. Ou um trabalho que você faz tudo direitinho para não perder a competição, (é assim por natureza, afinal trilhamos um caminho com milhões de espermatozóides), e assim somos agraciados com aquela foto em que você dá um risinho para receber um flash e ficar estampado na entrada da empresa e ficar conhecido como uma celebridade.(Hoje em dia é muito fácil virar celebridade.)

Talvez tenha ainda, aquele encontro de final da tarde par a beber algo e comentar com os amigos como foi o sexo com a vizinha, ( sempre existe uma em nossas vidas), e mentir!Mentir e se gabar muito. Pois não esqueçam que fizemos parte da CMV(Confederação de Machos de Verdade), transformamo-nos em maravilhosos contadores de histórias.(Todo mundo finge que acredita, mas na verdade isto é uma desculpa para beber aquela cervejinha e não chegar logo em casa e se deparar com a mulher que você prometeu amar até que a morte os separe.)
Sentimos-nos heróis, vivemos e diversificamos nossos papéis como fizemos todos os dias.Somos filhos, pais, amantes, amigos, desempregados, inteligentes, destrambelhados, alegres, tristes e filosóficos. (Olha a filosofia aí de novo gente!)

Chega o domingo e você escuta o rádio da outra vizinha, onde pastores e bispos de alguma Igreja pedem o dízimo para terminar a construção de um templo próprio. Ninguém merece!(Eta! Eu já pensei em ser pastor, será que alguém pensaria o mesmo que estou descrevendo agora?)
Você liga a TV e não tem nada para ver. Vai então à locadora e os melhores filmes estão na casa de outras pessoas que foram mais espertas que você.

Não que ir ao Shopping porque acha que estará contribuindo para o exarcebado consumismo, o país vai mal porque somos maus consumidores.( Ah! Também morre de vontade de tomar uma coca-cola e comer um Mac-D...,pois você é anti-americano, mas adorou a Brodoway , usa camisetas que você nem sabe o que está escrito e morre de tesão pelas americanas siliconadas)
Então lava o rosto e chega à conclusão que está velho.(Não me refiro a melhor idade .Bem! É melhor explicar.)
Um velho por não achar graça nas coisas e os questionamentos que te atormentam deixam sem saber como agir.

Ainda por cima, marcam uma reunião de condomínio, justamente no dia que você mais tem compromissos. Pior é que você não conhece ninguém, está solteiro,adora ler, estuda francês e visitar museus, e aquela vizinha(que mal sabe do caso do marido com o Boy de empresa em que ela é a dona) acha que você gosta de outra fruta.(Se é que vocês me entendem!)
Para completar, você recebe uma ligação de um antigo colega de escola, que adorava filar e colocar o nome nos trabalhos escolares sem executá-los e hoje é um político em busca de apoio. Promete trabalhar pelo povo e para o povo. Batalhar pela educação e gerar emprego. (Chega!Acho que já ouvimos este prólogo antes.)

Logo depois, uma operadora de tele marketing, com a língua plesa(eu sei que é presa,mas isto ajuda a visualizarmos a situação), vendendo um desentupidor de pia importado.Fala tão mecanicamente que dá tempo de você tomar um banho, voltar e dizer:
-Não,Obrigado!
Você então olha para o espelho novamente e lembra do carro que comprou, dos pagamentos de telefone, luz, água,enfim todas aquelas contas, todas pagas em dia, da mulher que você ama e foi embora, do quanto certinho você foi ao dizer muitos sim e retirar o não de seu vocabulário, mesmo quando necessário.

Começa a ficar com medo do desconhecido e da solidão e talvez, num instante filosófico, você acha que está entre justamente àqueles mesmos imbecis que não foram classificados. (Lembram?)

Talvez passe a entender que enquanto ser humano, o espelho sem palavras possa lhe dizer:
(-Se olhe bem, antes que seja tarde, não seja um deles.)
Ainda há tempo e mesmo que seja difícil aceitar que você cometa ignorâncias, lave bem o rosto e faça com que seus questionamentos tornem outras manhãs livres do peso de querer saber o quê se conquista nesta vida. (Sempre há tempo de fazer mudanças. Mesmo que seja um degrau de cada vez.O espelho estará sempre possibilitando momentos só seus. )

11 Comentários:

Blogger Angolla _\|/_ disse...

HEI KLEVER, TEXTO MASSA ... GOSTEI!

... e quando você falou em "espelhos" e "travesseiros", eu me lembrei de um lance que li há muito tempo e guardei até hoje :

"Metade do que dizem sobre mim, não é verdade.

Metade do que é verdade, não é dita.

Devo então chegar a conclusão que por uma vida inteira, meu marketing pessoal foi e é uma merda!

... mas em qual metade?!"


:)


Pra mim, o grande barato da vida ainda somos nós, as pessoas!


Abraços!
Angolla

17:44  
Anonymous Anônimo disse...

perfeito meu amigo
tá perfeito seu texto
adorei
beijo grande e poxa
nem tenho o q acrescentar
tá perfeito

23:38  
Anonymous Anônimo disse...

Por Anderson Maia

Certo dia me dei conta de que nossa vida, de fato, é uma pura filosofia! passamos todo tempo questionando isso e aquilo... tudo isso é o puro espelho do que tenho vivido ultimamente, constantemente me pego a refletir e a perguntar a mim mesmo (diante do "espelho") qual real sentido da vida, num mundo onde vivemos só pra produzir, consumir, "fabricar" dinheiro, desenvolver mais e mais nosso "encéfalo"... enfim... parece que nada mais faz sentido nessa vida, parece mesmo que só viemos ao mundo pra isso!!! muitas vezes, na ambição de alcançar nossas metas, esquecemos de nós mesmos, esquecemos do que é viver de verdade! esquecemos de dar valor às pequenas coisas da vida... aquela festa de aniversário de um grande amigo numa sexta-feira, após uma semana cansativa... aquela praia num feriadão... aquela noite com os amigos, falando altas bobagens... aqueles momentos em que você ri de tudo, até de você mesmo... enfim, o que quero dizer com tudo isso é que nunca é tarde para mudar, para olharmos para o "espelho" de nossas almas e vermos o que está faltando em nossas vidas, e, finalmente, passarmos a ser de fato seres humanos, e não apenas "robôs" da sociedade capitalista em que vivemos. É para isso, dentre várias outras coisas, que serve a filosofia, para refletirmos e nos dar conta de que existe sempre mais... nem tudo é como achamos ou como vivemos... viver é preciso, ser feliz é preciso, mudar é preciso. Esse sim, é o real e principal objetivo da vida!!!

00:20  
Anonymous Anônimo disse...

"A Lista" realmente... o que se passa?

03:11  
Anonymous Anônimo disse...

Como alguém devidamente moldada nas fôrmas brasileiras, às vezes fico tentada a cair naquela atitude de 'é isso aí mesmo, não tem solução, todo político calça quarenta, talvez se eu começasse a beber...?'. Esses moldes se aplicam também à resignação predominante nesse tipo de situação, conviver com o que o mundo nos atira sem aviso prévio lá fora (inevitável, embora a postura com que se decide encarar isso não seja), confrontar o espelho quando a coisa pesa e fazer uso do travesseiro quando a chance aparece, ou quando a fazem aparecer. De todo modo, a questão central disso tudo é que podemos escolher se queremos viver à deriva, totalmente à mercê do humor do mundo e até onde este afinal nos conduz, ou se queremos estabelecer regras de matrimônio em termos de, no mínimo, igualdade de troca equivalente.

Muito boas as reflexões, Klever. É inclusive deprimente ter de contemplar esse aspecto do ser humano mais frequentemente do que não ao longo do span de vida de cada um. É mais deprimente ainda o fato disso ser totalmente inevitável. Te faz perder a fé na humanidade, lugar-comum das Eras? De modo algum. Quando pelo menos uma minoria tem o ímpeto de encarar o espelho aqui e ali, meu querido, significa que ao menos uma centelha de integridade e amontoado pensante há.

03:18  
Anonymous Anônimo disse...

por Luciano Rogerio!

Acho importante refletirmos, mas é uma pena que outros não o façam, não é mesmo. Fiquei um tempo sem postar aqui, mas é sempre bom voltar.

22:15  
Anonymous Anônimo disse...

Meu AMIGO Klever é muito profundo. Na verdade, eu acho que o espelho e o travesseiro são parceiros no processo de auto-conhecimento, no processo da vida. O primeiro é onde vc se vê, se reconhece, observa suas feições e o que mudou, o que podes mudar, enfim QUEM É VC. O segundo é justamente para vc concretizar ações facilitadoras na compreensão e retificação das falhas do primeiro. No travesseiro, paramos, refletimos, fechamos os olhos e processamos tudo. No espelho sabemos quem somos. Enfim, na verdade este processo linear é muito relativo, pois se pararmos para observar, INFELIZMENTE, encontraremos pouquíssimas pessoas que entendem este processo e vivem num estado de aperfeiçoamento pessoal. NA VERDADE, O QUE PODEMOS CONSTATAR É QUE AS PESSOAS ESTÃO LOUCAS.

Rodrigo de Magalhães

23:11  
Blogger GeraldTheSaint disse...

EHEHEHEH É a síndrome do niver chegando, nos torna reflexivos. Confesso que não penso muito nisso, nem na morte nem no futuro, vivo um dia de cada vez, pq a minha vida já me provou que é isso que devemos fazer.

adorei o texto ele é muito visual, daria um excelente curta ou mesmo uma película existencialista, Bergmam faria desse mote um filme super profundo: o homem e seu espelho, seu espelho e seu travesseiro, o homem e um ponto no teto, reflexão.

Não sei pq ..mas só lembro mas só lembrei de Fanny e alexander, de bergman enqaunto lia o texto...acho que é pq tudo é tão naturalmente cotidiano.

Regret, do New order resume bem o sentido do texto:

Maybe Ive forgotten the name and the address
Of everyone Ive ever known
Its nothing I regret
Save it for another day
Its the school exam and the kids have run away

I would like a place I could call my own
Have a conversation on the telephone
Wake up every day that would be a start
I would not complain of my wounded heart

I was upset you see
Almost all the time
You used to be a stranger
Now you are mine

I wouldnt even trust you
Ive not got much to give
Were dealing in the limits
And we dont know who with
You may think that Im out of hand
That Im naive, Ill understand
On this occasion, its not true
Look at me, Im not you

I would like a place I could call my own
Have a conversation on the telephone
Wake up every day that would be a start
I would not complain of my wounded heart

I was a short fuse
Burning all the time
You were a complete stranger
Now you are mine

I would like a place I could call my own
Have a conversation on the telephone
Wake up every day that would be a start
I would not complain about my wounded heart

Just wait till tomorrow
I guess thats what they all say
Just before they fall apart

grande abraço

23:50  
Blogger CENTRÍFUGA disse...

Grande Gerald!

Realmente quando escrevi, pensei visualmente. Imaginei um curta, quem sabe ele não sai um dia.

Achei muito bacana suas reflexões, gostei mesmo. Talvez faça parte deste novo começo, de minha idade nova.

um grande abraço
Klever

23:54  
Anonymous Anônimo disse...

Acredito na vida! nas pessoas e nas reflexões sem as quais não avançariamos.

Gostei do texto e dos comentarios acima. que bom que existe gente com algo na cabeça e emotividade neste mundo.

Fabiana

01:55  
Blogger joão m. jacinto & poemas disse...

Parabéns, pelo blogue!

Gostei deste seu texto. Lembrou-me um poema, escrito por mim, em 1991.

Reflexo

Olhei-me ao espelho
e não me reconheci.
Olhos nos olhos,
tentava compreender
aquela imagem do eu
tão desfocada e irreal.
Assustei-me.
Tentei fugir de mim.
Olhei-me como me vêem
e era de novo eu.

jj

Abraço

00:13  

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