CENTRÍFUGA

8.11.06

BRASIL & FUTURO

Brasil: o país do futuro. Essa frase permeou grande parte da História recente do nosso país. Mas esse futuro prometido chegou para todos? Alguns mais sarcásticos diriam que, como é “um país do futuro” as mudanças sociais necessárias nunca seriam conjugadas no presente, mas apenas no futuro. Imperfeito, diga-se de passagem. Pois mesmo os planos mais magnânimos elaborados pelos nossos líderes e governantes não são, nem de longe, aquilo que de fato será o melhor para a maioria do povo.

Há bolsa-isso, bolsa-aquilo, num afã assistencialista que equivale a um prato de sopa distribuído semanalmente a um grupo de mendigos famintos por atenção e cidadania. A importância de tais projetos que atacam os sintomas e ignoram as causas da doença é de um cunho eminentemente populista. E numa realidade social cruel como a que vivemos atualmente, ações desse tipo são ferramentas poderosas no intuito de mitificar personagens da política. O cunho é eleitoreiro, se pararmos para pensar.

Verdade seja dita, há méritos em alguns dos projetos sociais implementados pelo atual governo federal. Não deixam de ser uma forma de repartir a riqueza do país. Talvez uma tentativa (mesmo que pálida) de promover uma melhor distribuição de renda. Principalmente quando se atrelam a certos programas algumas contrapartidas, como por exemplo a obrigatoriedade de se colocar e manter as crianças na escola. O problema, em tal caso, reside na qualidade do ensino que é oferecido pelo Estado que, em muitos casos, deixa a desejar.

Nos Estados nordestinos os problemas que decorrem da má distribuição de renda são ainda mais drásticos. Uma cidade como Recife, por exemplo, experimenta índices de violência comparáveis a países em guerra. Os bolsões suburbanos já vivem, há muito tempo, em estado de sítio. Com direito a toque de recolher e tudo mais. Creio que seja apenas uma questão de tempo até que a região metropolitana do Recife se torne uma cidade dividida pela tensão e medo, como o Rio de Janeiro. A banalização da violência já se instalou na maior parte da população. Programas de rádio, TV e alguns periódicos locais estampam quão corriqueira é a violência urbana na capital do frevo e maracatu. A cultura do medo é amplamente utilizada para que a massa fique quieta, vivendo em pavor em suas prisões particulares, com as comodidades que cada um pode adquirir. Uns mais, outros menos. Quanto àqueles que existem abaixo da linha da pobreza só resta conviver desesperadamente com as mazelas causadas pela falta de ação política e social. Social também, na medida que a sociedade se cala ou se deixa subjugar diante dos fatos escabrosos do dia a dia. Quando as classes mais abastadas se escondem cada vez mais por trás dos vidros fumê dos seus carros populares com ar condicionado, ou no alto de seus prédios gradeados.

CLIQUE AQUICerta vez, uma amiga jornalista (e também minha professora) me contou que estava na França estudando, quando foi interpelada por alguns colegas jornalistas franceses que questionaram quais atitudes ela tomava, como profissional de comunicação, em relação ao problema dos meninos e meninas de rua em nosso país. Ela disse que aquilo foi equivalente a um tapa na cara. Deu-se conta de como a banalidade do assunto faz com que um tema tão grave como as nossas crianças que vivem na rua não seja considerado importante para toda uma sociedade. Preferimos não enxergar. E o que não enxergamos, não sentimos. O que não sentimos não nos interessa. E não há ação se não houver interesse.

Estamos perdendo a capacidade de nos colocar no lugar do próximo. Esquecemos que todas as pessoas, sejam de que raça, religião ou classe social forem, não deixam de ser nossos semelhantes. Nos acostumamos a eleger governantes que pensam de forma desassociada do pensamento popular, cujo vinculo se dá meramente em períodos de campanha. Irresponsavelmente e da boca para fora. Cabe cada vez mais à sociedade unir forças para manter os eleitos na linha e impor o que a maioria deseja como futuro do nosso país. Nosso futuro não pode ser construído à nossa revelia. Uma ação cidadã, responsável e incisiva ajudará, quem sabe, a mudar o que precisa ser mudado e manter uma bandeira fortemente fincada nos avanços conquistados com muita luta pelo povo brasileiro durante sua História.

Sergio Dourado

7 Comentários:

Blogger Angolla _\|/_ disse...

PEQUENO GRANDE HOMEM !!!


.... a foto é nota 10 :)



Angolla

08:51  
Anonymous Anônimo disse...

que Deus, Alá, Moisés, e todos os deuses e seitas abençoem essas palavras
e principalmente, que as crianças em situação de rua, saiam dessa triste realidade
triste não só pq estão na rua passando fome, mas pq mendigam, se drogam, se preostituem, roubam, matam, aprendem o pior da vida e sem saber passam isso adiante como a mais competente das lições humanitárias...
pq eles como eu e como qlq pessoa desse mundo, tem direito a escola, comida, abrigo, lar, família
pena q falta muito ainda
lindo seu texto sérgio

23:37  
Blogger Diego Arcoverde disse...

Bela reflexão, mas sou obrigado a discordar em um aspecto. Não vejo esses programas sociais como uma solução boa em nenhum sentido. A "forma de repartir a riqueza do país" que você falou apenas serve para tratar dos sintomas de desigualdede social a curto prazo. Muitas vezes até causam problemas maiores. Recente reportagem do Diario de Pernambuco mostrou como isso está sendo uma forma de "ganhar a vida". Mulheres em idade economicamente ativa preferem deixar de trabalhar e se tornarem puras reprodutoras para complementar a renda em casa.
Posso soar repetitivo em meus comentários, mas o que se deve fazer é parar de investir em esmolas e investir em educação de qualidade e geração de empregos. Apenas dessa forma pode se começar a pensar no futuro do Brasil.

00:03  
Anonymous Anônimo disse...

Dieguito...
Não deixa de ser verdade... mas nao podemos considerar o exemplo de alguns e punir todos. Que continuem alguns projetos e que se outros sejam criados para levar a conscientização e a cidadania. Que tal?

14:03  
Anonymous Anônimo disse...

Bem, creio ainda que o Brasil é o país do futuro, mas um futuro ainda distante. Creio que temos atualmente um Presidente sensível, porém pessimamente assessorado. Creio que o mesmo deve viver numa angústia tremenda ao ver seus companheiros melando os sonhos do povo. Mas, creio muito mais que o mesmo está arrumando a casa para que a reforma social, política, e do diabo a quatro seja implantada. Vamos aguardar. Quando o Sérgio pincela sobre o problema da violência nas grandes cidades, devemos refletir sobre qual sentimento se faz presente ao receber estes fatos. O perigo é se não traz mais sentimentos ouvir isto. É muito interessante quando comentamos sobre o crime organizado, ora e muito bem organizado hein. É uma pena que nossas instituições responsáveis pela desarticulação desta empresa organizada, o crime, sejam tão desorganizadas. Cotidianamente, nos chocamos com a audácia dos crimes cometidos. Nossa! Filho matando pais, neto matando vó, policial estuprando e matando criança indefesa. Vamos DESACELERAR para digerir tudo isto. Digerir sim, ver, pensar, refletir, horrozizar-se, FICAR PRA NUM VIVER. Minha gente! Quais os valores nutridos pelas PESSOAS, o que as PESSOAS valorizam, o que as PESSOAS querem para suas vidas. PESSOAS são bombas programadas. Ninguém sabe o que podem fazer ou o que pensam. Devemos ter mais apego aos PAPÉIS. Deixarei a filosia de lado, que inclusive já perdi o raciocínio crítico-social. As ruas são as vitrines do que é o povo, ou melhor, o que o povo será. Mas, não é algo determinante, ou já encimentado. Tudo se pode mudar. Se pelo menos, guardarmos a ira sobre as injustiças sociais bem separadinhas dentro de nós, um dia, tendo um incejo, vamos nos posicionar. Seja numa defesa de um inocente no meio da rua, uma reinvindicação numa fila de banco, numa faculdade, enfim. Nós como atores sociais estamos sempre movimentando e criando situações que nos levarão para os intuitos desejados. Olhar uma criança na rua e virar a cara, é algo deprimente. Indigne-se. Choque-se. Pense em algo para mudar isto. Vote certo, cobre, denuncie as esculhambações políticas. As vezes, páro e me desanimo com tantas coisas ao avesso. Fico que nem bosta n'agua. Odeio variações, gosto de linha reta e de fato, viementemente, nossa sociedade é uma estrada de Santos. Vai demorar para chegar a uma Caxangá. Sérgio, tu me tocaste, tanto que me desorientou textualmente. Agradeço-te.

15:12  
Anonymous Anônimo disse...

Ainda me supreendo com textos como este, que digerem nossa realidade e nos atiram a cínica introspeção. Sim, cínica! Crescemos nesse mundinho injusto - das diferenças sociais, da violência, e da banalidade destes fatos - buscando, ainda assim, meios para nos distanciarmos disto.

Me deixa confuso não sermos tão conscientes e coerentes a ponto de abrir mão de nossos hábitos na direção a uma sociedade mais equilibrada e justa.

Desperdiçamos papel sem nos dar conta de quantas árvores foram necessárias para fazê-lo; Deixamos a tv ligada apenas pelo conforto de tê-la como companhia mesmo quando nao a estamos assistindo; Gastamos com bebida álcoolica enquanto crianças nunca tomaram um refrigerante; Poluimos o ar com nossos carros.

Nossa!! Fico perdido em pensamentos humanitários que de tão óbvios, parecem ridículos. Mas no final das contas nao temos moral para nos posisionarmos acima das mazelas sociais. Contribuimos o tempo todo para que as coisas permaneçam como estão.

E só para esclarecer,acredito que discussões como esta causada por este texto são extremamente válidas. Como pretenso comunicólogo, me entusiasmo ao ler boas verdades, farpas ao nosso modelo econômico, alfinetes à nossa consciência. Só a partir do nosso descontentamento conseguiremos atuar com real coerência sobre nosso cotidiano.

Abraço

21:45  
Anonymous Anônimo disse...

o texto está muito bem colocado e bem informado, quando vc cita o que fazemos para tais problemas? inclusive "os meninos de ruas".espero que aos menos nos que temos a ferramenta mas imporatante que é a "informação e conhecimento" possamos ser multiplicadores dentro desta tão "cega" sociedade e começarmos a realmente fazer algo pra mudar este cenário.... parabéns pelo texto.

20:30  

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