CENTRÍFUGA

25.5.06

QUANDO UM MITO CAI

Podemos passar a vida inteira tentando entender as pessoas e certamente chegaremos à conclusão de que isso é impossível. Entender a si mesmo já seria, por si só, uma grande conquista. Freqüentemente nos pegamos praticando atos surpreendentes e não condizentes com o que somos de fato (ou com a idéia que fazemos de nós mesmos). Em relação aos outros isso constitui uma cilada ainda mais matreira. Quem nunca foi pego de surpresa com uma atitude inesperada vinda de alguém que julgávamos conhecer profundamente?

As pessoas são estranhas. E nas metrópoles isso é ainda mais evidente. Como diz o meu professor de Sociologia, os seres humanos de hoje em dia, que vivem nas grandes cidades, estão desenvolvendo uma personalidade esquizóide. E o que vem a ser isso? Segundo o psiquiatra Geraldo José Ballone, este tipo de distúrbio é verificado em pessoas que exibem um (...) constante desconforto nas interações humanas, uma excentricidade de comportamento e pensamento (...) O esquizóide (...) dá a impressão de desinteresse, reserva e falta de envolvimento com os acontecimentos cotidianos e com as preocupações alheias, normalmente ele tem pouca necessidade de vínculos emocionais. Desta forma constatamos serem os moldes basais dos vínculos entre os nossos semelhantes: cada vez mais tênues e frágeis.

Desconcertante, entretanto, são aqueles fatos que acontecem nos âmbitos que insistimos em qualificar de "terrenos seguros"; mesmo quando toda a experiência cotidiana nos mostra que tais espaços não passam de mera utopia. Surge irresistível a tentação de acreditarmos piamente em outro ser humano. Pior ainda incidir no erro de mitificar alguém. De colocar um outro ser de carne e osso num patamar ideal e irretocável. Quase ninguém merece deferência de tal grandeza. Mas quedamos nessa tentação repetidas vezes. Seja em relação a um artista ou ídolo cuja imagem pasteurizada nos é imposta pela comunicação de massa, seja em relação àquele grande amigo ou familiar que sempre se mostrou de reputação e caráter ilibados. Ninguém é perfeito. Isso é um fato. E realce-se a garantia quase que cedo ou tarde a verdadeira face há de surgir impávida para assombrar aos mais desavisados.

Não prego aqui a desconfiança generalizada. Tão pouco a descrença no próximo ou amargura. Apenas proponho uma cautela permanente, a fim de aplacar a ansiedade que nossa tendência esquizóide pós-moderna insiste em nos provocar. Nesse novo espaço de fluxos, em que somos obrigados a viver e interagir, não sobra muita vaga para demandas utópicas ou mundo de fantasias. Torna-se mais fácil lidar com um fato quando este é conhecido. Conhecemos as pessoas que nos cercam. Precisamos, entretanto, ultrapassar o verniz aparente a fim de rompermos as barreiras da superficialidade. Entender os defeitos alheios, ao invés de expurgá-los da existência ideal que fazemos de alguns.

Passando para uma primeira pessoa incisiva, findo este texto com um depoimento.
Recentemente, um mito caiu diante dos meus olhos. Alguém que eu punha num pedestal de mármore mostrou sua verdadeira face. E era feia. Pior para mim pois, além do fato não ter acontecido de uma hora para outra, me prendi ao velho clichê de "tapar o sol com a peneira" (perdoem-me a expressão) e procurei a todo custo manter a imagem do grande amigo intacta, apesar dos chamamentos à ordem perpetrados por conhecidos e desconhecidos. Mas, como todo mundo chega a um limite do suportável, eu sofri a experiência de ter que abrir forçosamente os olhos e encarar o bicho de frente. Mas reconheço que hoje sofro por minha própria conta e reconheço a culpa que me cabe. A dor maior não vem do fato de enxergar a verdade, mas da pena que sinto por conta desse antigo amigo ser do jeito que é. Ele é uma completa antítese centrada em si mesmo. Deve sofrer muito em diversos aspectos e mostra definitivamente que não consegue lidar com suas frustrações. Não queria fechar as portas diante do fato. Mas minha auto estima fala mais alto. Espero que um dia as coisas melhorem.

por Sérgio Dourado

1 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Sem noção.
Como ele mesmo falou que eu ainda não havia comentado seus textos, deixo aqui minha humilde msg diante de palavras tão nobres e que não merecem mera e simples palavras de elogios
vc arraza sergio
espero que este seu amigo não continue agindo assim com vc que é tão maravilhoso, umapessoa impar
bjos

01:19  

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