CENTRÍFUGA

26.2.07

NORMALIDADE

Enfim o ano começa pra valer. Passado o Carnaval, grande parte do Brasil aos poucos vai entrando no ritmo de trabalho e responsabilidade. Ao que parece o grande temor de uma explosão de violência e barbárie social não se concretizou completamente no grande feriado. Continuou avassaladora, porém não mais contundente do que nos anos anteriores. Muitos morreram nas estradas e assassinados. Assaltos foram cometidos. Brigas foram contidas, outras terminaram tragicamente. Tudo na maior normalidade estatística brasileira.

Parece que o Brasil se acostumou penosamente à violência do quotidiano. Se houve apenas uma certa quantidade de mortes, é considerado natural, normal e dentro da previsão. A segurança pública parece trabalhar em termos paliativos, não com o afinco que resultaria em uma efetiva diminuição da criminalidade. Não há estratégia, investimento e nem comprometimento político suficiente.

E enquanto os honestos vagam nessa insegurança temerosa, os vilãos se regozijam na impunidade medíocre, corroborada por uma sociedade cada vez mais apodrecida. Até onde isso vai?

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Sergio Dourado

20.2.07

IMAGENS DO CARNAVAL



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13.2.07

PAUSA PARA CARNAVAL

No calendário ocidental o ano começa oficialmente à 0 hora do dia 1 de janeiro. Porém as coisas no Brasil apenas acontecem, de fato, depois de curada a ressaca do Carnaval. Sim, depois da ressaca, tendo em vista que, entre a quarta-feira de cinzas e e o Sábado seguinte, qualquer brasileiro que possa, certamente irá riscar a quinta e a sexta-feira ingratas do calendário e esticar o feriado até o Domingo.

Nesse meio tempo as coisa ficam quase que em suspenso. As decisões não são tomadas. As pessoas não se dedicam 100% ao que devem. Acontece meio que uma disseminação de um estado de letargia entre os brasileiros. Tudo é Carnaval, comemoração, folia, alegria. E alienação. A festa consome a consciência do povo, que já não funciona a contento. Nublam uma série de “causos escusos” que vamos descobrir apenas muito depois (quando eventualmente chegam a público).

Esse ano a catarse da fantasia foi meio que chamuscada por eventos chocantes ventilados pela mídia dias antes da festa de Momo. Um Domingo antes do início do Carnaval, assistiu-se em rede nacional ao depoimento chocante e ao mesmo tempo sencacionalista de uma mãe que perdeu o filho de uma forma completamente brutal e inumana. Antes que me critiquem, usei o termo sencacionalista pois, da forma como foi anunciado antes da exibição da entrevista e a forma como foi conduzida a mesma, não tinham o cunho unicamente de denunciar um fato trágico ou expor uma realidade cruel e violenta. Foi explorada a imagem da dor genuína de uma mãe e um pai para obter audiência. Isso acontece o tempo todo. E dessa vez calhou de acontecer uma semana antes da alienação carnavalesca. Uniu-se à soma de fatos preocupantes que vêm antecedendo as semanas “pré”. Há duas semanas presenciamos a selvageria incontida num “Balança Rolha” que balançou tanto que parece ter caído de vez pela Avenida Boa Viagem afora. A segurança pública faltou à festa.

Talvez esse ano o Carnaval seja mais violento. Talvez as coisas continuem na mesma. Quem sabe essa sensação de medo seja fruto apenas da maior visibilidade que a mídia resolveu dar à violência quotidiana a qual estamos sempre inadvertidamente expostos. Por garantia é melhor tomarmos todas as medidas preventivas para que não sejamos transformados de foliões em vítimas e, por conseguinte, estatísticas. Nosso governo não liga muito para elas.


Sergio Dourado

6.2.07

VIOLÊNCIA PRÉ-CARNAVALESCA

Para quem mora no Recife a violência tornou-se sinônimo de cotidiano. E não falo apenas da violência física, cruel e sangrenta. falo também da violência moral, sem escrúpulos e que denigre a nossa imagem de pernambucano: cultural, visionário, divertido, festeiro.

Começo apontando a imensa falta de visão de um grupo de políticos e empresários locais que se uniram para trazer o Fatboy Slim para o Recife, no último dia 1. Primeiramente: área VIP para 4 mil pessoas pode ser tudo, menos um local privilegiado que proporcione conforto para quem tem grana para gastar. E no meu parco conhecimento de espaços VIP, creio que um lugar que receba tal classificação deva, pelo menos, oferecer alguma retribuição ao "vip" fora uma área apertada, sufocante e mal servida.

Além disso, a fome de embaçar outras opções mais divertidas do que um enlatado (e caro) "espaço vip", ou um tumultuado meio de praça gratuito, fez com que a organização (???) do evento, colocasse obstáculos ao longo da beirada da Praça do Marco Zero que dava para o oceano. Isso tudo para que a visão dos espectadores que foram em suas embarcações ficasse comprometida por inúmeras barracas cobertas por altos "chapéus de bruxa". Afinal de contas, quem optou por não pagar os R$ 100,00 do "camarote vip", não há de ter o direito de assistir ao espetáculo, mesmo que de rabeira. E para piorar, vem a cartada final que comprova essa ausência de bom senso dos organizadores do evento. Bloquear a visão do mar não era suficiente: que as potentes caixas de som fiquem totalmente voltadas para a terra e nenhuma para o oceano. Afinal de contas, quem optou por não pagar os R$ 100,00 do "camarote vip", não há de ter direito de escutar o espetáculo em alto em bom som.

Esquece-se apenas do detalhe insistentemente inexplorado da cidade do Recife: somos uma cidade que floresceu em meio a rios deslumbrantes, com um oceano maravilhoso à nossa frente. Obviamente imagino que, caso esse show do Fatboy Slim tivesse acontecido em uma cidade como Sydney ou Veneza, haveria uma digna preocupação com o público que inevitavelmente iria prestigiar o espetáculo da água, em suas embarcações. Mas estamos falando de Recife - cidade ofuscada pela mentalidade pequena, bairrista e tacanha. Bem colocou o colunista Orismar Rodrigues, do Jornal do Commercio, que enalteceu o show à parte que foram as embarcações na frente do Marco Zero e apontou a falta de estrutura do tal camarote de cem reais.

Então chega o Domingo. Dia do tão aguardado e anunciado bloco Balança Rolha. Aquele da baiana Ivete Sangalo. Sim... de Ivete; afinal pouco se deu destaque às atrações pernambucanas que iriam desfilar também. E vem a velha união do pouco investimento com a maximização de lucros. Sempre contando com a aquiescência pacífica do povão, que baixa a cabeça diante da truculência. Porém nesse Domingo fatídico isso não aconteceu. Seguranças de menos, policiamento de menos. Cordão de isolamento baiano num bloco pernambucano em plena Avenida Boa Viagem. "Como é que é mermão?? - Vou esculachar..." E esculacharam. Foi tiro, garrafas e cocos voando, gente passando mal, assaltos, tapas, murros e muita reclamação da sociedade. Então vem o prefeito dizer que Carnaval em Recife não combina com cordão de isolamento. Grande novidade. Nossa tradição sempre foi a liberdade, o popular e povão mesmo. Nada de capitalismo selvagem no nosso carnaval. A poluição visual dos patrocinadores oficiais já é mais do que suficiente.

Claro que a violência ocorrida não tem justificativa. Violência é imperdoável. Mas que diabo de planejamento foi esse que destacou apenas duzentos e poucos policiais para um evento desse porte, acontecendo na rua? Até algumas partidas de futebol receberam reforço policial maior. E nem a desculpa de que a quantidade de público foi subestimada cola, pois até mesmo um cidadão comum, residente em Boa Viagem, poderia dar uma previsão melhor da quantidade de gente que iria se aglomerar para assistir a SHOWS de graça ao lado da praia mais frequentada do Estado. Linhas êxtras de ônibus foram colocadas, ruas bloqueadas e muitos outros preparativos foram feitos para receber essa aglomeração toda. Apenas a segurança foi esquecida. Isso foi certamente uma receita cozida em panela de pressão. Mas a panela não aguentou. E quem se deu mal, mais uma vez, foi o cidadão de bem que tentou se divertir na paz e os moradores de Boa Viagem que novamente tiveram de reviver as agruras do Carnaval do despreparo e a violência na porta de casa.

E agora? O que esperar do Carnaval propriemente dito?

IMAGEM DO BLOCO BALANÇA ROLHA 2007:
FOTO: C. Bradley


Sergio Dourado