CENTRÍFUGA

13.9.07

POR ENQUANTO FICA

Pois é. Renan fica. O presidente do Senado foi absolvido pelos próprios colegas; pelo menos no primeiro dos quatro processos que pedem sua cassação. Resta saber se a opinião pública exercerá a pressão necessária para que a vergonha aflore à face amadeirada dos nobres senadores eleitos pelo povo. Impressionante como certos políticos brasileiros conseguem dar as costas ao clamor popular e às necessidades de toda uma nação cansada de arcar com altos impostos sem receber uma contrapartida adequada. Vive-se para trabalhar muito, pagar tributos altos e mal geridos bem como contas de serviços que deveriam ser de obrigação do Estado, como plano de saúde e educação particular.

Num Brasil como o se apresentou esta semana, a classe média – normalmente responsável pelo salutar hábito do consumo que sustenta a economia – está ficando cada vez mais oprimida e descontente. Os mais pobres se iludem com algumas atitudes profiláticas disfarçadas em bolsas de auxílio que não significam exatamente uma solução definitiva dos problemas, mas meramente um alívio momentâneo e doutrinador em relação aos mais miseráveis. Trata-se de uma política que presta pouca atenção ao processo de melhoria a longo prazo dos problemas brasileiros. Espera-se que pelo menos os jovens, beneficiados por tais programas de governo, estejam realmente freqüentando as escolas públicas e se alimentando da merenda licitada, contratada e fornecida por meia dúzia de empresas cartelizadas que dominam todo o mercado de merenda escolar do território nacional. E em relação à qualidade do ensino oferecida delo Estado? Sabe-se que não é das melhores.

O fato de o Senador Renan Calheiros recusar-se, sequer, a cogitar a possibilidade de renunciar ao seu mandato, dá-se pelo fato de que está mais viva do que nunca a certeza de que a impunidade é uma realidade no Brasil. Ainda mais quando se está respaldado por uma imunidade parlamentar. O episódio bizarro que aconteceu nesta quarta-feira é apenas mais um exemplo de situação-limite que, caso acontecessem em outros países tão ou mais desenvolvidos que o Brasil, dariam ensejo a uma revolta popular. Em alguns países talvez nem chegasse a tanta confusão – a vergonha seria tanta que o acusado se afastaria imediatamente ou daria cabo da própria vida, como aconteceu com um ministro japonês descoberto com a “mão na tigela”.

Vale ainda ressaltar que o Senado Federal é uma casa que representa, de forma igualitária, os Estados brasileiros, tendo cada unidade federativa três representantes. Já na Câmara Federal cada Estado, de acordo com a quantidade de eleitores, elege um número diferente de representantes, que deveriam, a priori, defender os interesses do povo de suas unidades federativas. Mas nem por isso os senadores deveriam dar as costas à vontade do povo. Afinal, quem os elege?

O que cansa e inspira descrença é o fato de que o povo continua votando de forma alienada. Elegendo e reelegendo representantes que atuam de forma dissonante do espírito esperançoso e batalhador do brasileiro típico, que apesar dos pesares segue amando sua pátria.