CENTRÍFUGA

27.6.06

TV DIGITAL e AGORA?

Pois é. O que muito se comentava está praticamente acertado. Aproveitando a exarcebada cobertura da Copa do Mundo, o assunto TV DIGITAL que tanto se falou e gerou movimentos no país, para àqueles que tinham noção do assunto é claro, porque a grande mídia nunca abordou ou se preocupou em informar ou disseminar o assunto.Por que será?

Para isso, postamos agora mais uma matéria sobre o assunto. Que espaço teremos quando nos formarmos? Que programação teremos? Os interesses vão continuar? Que Televisão queremos? O que é possível fazer para a Televisão ser realemnte democrática e com qualidade?

Klever Schneider


Triste fim na novela da TV digital brasileira Antonio Brasil


Como toda novela, a implantação da TV digital brasileira teve um final previsível. Mas não foi um final feliz. Muito pelo contrário. O governo resolveu aproveitar o clima de euforia e o entorpecimento geral dos brasileiros na Copa para anunciar o capítulo final. Destaco algumas manchetes sobre essa polêmica decisão:


"Ministro Hélio Costa confirma acordo com Japão para a TV digital" "Redes saem vitoriosas com padrão japonês de TV digital" "TV Digital: Radiodifusores já debatem implantação do padrão japonês"
E como toda novela, os últimos capítulos também já indicavam que certos personagens estariam dispostos a tudo para garantir o final "feliz": "Globo oferece Copa em TV digital para Ministério das Comunicações, Câmara e Senado" "Lula elogia 'padrão nipo-brasileiro' de TV digital"
Nenhuma surpresa.


Há muito tempo o noticiário já sinalizava a pressão dos personagens radiodifusores para que o governo não atrapalhasse o enredo e escolhesse logo o padrão japonês. Por que esticar a novela? Principalmente em meio a tantas ameaças.
Ou seja, apesar das recomendações e protestos de diversos setores da sociedade brasileira que insistiam na necessidade de estendermos a trama, Lula preferiu ouvir somente os personagens poderosos da novela: as velhas famílias que há anos controlam a radiodifusão brasileira.


Mas, como em todo folhetim, já surgem críticas e reações contra a qualidade do enredo e a previsibilidade do final.
"Decreto da TV digital mantém monopólio" "Entidades defendem mais debate sobre escolha do padrão de TV digital""Europeus lançam plano para AL e defendem adiamento de TV digital""Gil defende decisão sobre a TV digital só após as eleições"
A novela da TV digital brasileira, no entanto, ainda pode nos reservar algumas surpresas.


Segundo o mesmo noticiário, Lula já teria orientado seus ministros a negociar com o Japão as contrapartidas para que o anúncio produza ganho político no ano eleitoral.
Mas o governo japonês já deixou bem claro que não pode garantir a implantação de uma fábrica de componentes no Brasil. Há somente um compromisso de formação de mão-de-obra especializada e ajuda para a criação de condições no país que viabilizem a implantação dessa indústria. Podemos ter caído em um conto do vigário. E o pior. Um conto do vigário japonês.
Em sua decisão, o presidente teria levado em conta o lobby das grandes emissoras de TV do Brasil a favor do padrão japonês. Não seria inteligente contrariar essas empresas no ano em que disputa a reeleição.


Ou seja, sob pressão dos radiodifusores e sem os recursos financeiros do Valerioduto, Lula preferiu garantir pelo menos uma certa neutralidade durante a campanha eleitoral. Ele conhece muito bem o poder do jornalismo investigativo das TVs brasileiras e suas câmeras ocultas para revelar falcatruas e maracutaias. No momento, as câmeras ocultas estão "sob controle".
Neste triste final de novela barata, Lula decidiu por um sistema de TV digital experimental, ainda em construção. Um sistema que não foi adotado por nenhum país da América Latina, do Mercosul e do mundo. Um sistema que não está totalmente implantado sequer no Japão. Seremos cobaias dos cientistas japoneses e estamos isolados nessa decisão.


Essa escolha do governo do Lula põe fim a uma longa guerra de bastidores que envolveu ministros de Estado de países estrangeiros, multinacionais fabricantes de equipamentos, operadoras de telecomunicações e redes de TV.
Mas, pelo jeito, a guerra, ou novela, continua. O governo ainda terá que regulamentar o "modelo de negócios": nessa fase, poderá ser definido quem poderá participar da nova televisão e se haverá ou não mais competição no setor. O Congresso Nacional, que tentou participar da escolha do padrão, agora deve voltar suas atenções para esse "modelo de negócios".


Mas como essa decisão afeta o futuro da televisão brasileira?
Ao privilegiar o padrão japonês, essa decisão deve dificultar a entrada de novos concorrentes, novos canais de TV.
Qualquer que seja o resultado da Copa na Alemanha, por aqui, mais uma vez, perdemos a Copa do nosso futuro. As forças do atraso venceram. O Japão e seus aliados brasileiros, os radiodifusores com capitanias hereditárias, comemoram. Ou seja, nada vai mudar. Tudo vai continuar da mesmíssima forma.


O padrão japonês é melhor para as TVs brasileiras porque é o que trará menos impacto ao seu modelo de negócios. Não haverá a entrada de novos concorrentes, principalmente as temidas telefônicas.
Ainda no noticiário...
"Presidente da Comissão Européia critica populismo na América Latina"BBC Brasil
O presidente da Comissão Européia, o português José Manuel Durão Barroso, criticou o avanço do que ele considera "populismo" na América Latina. "É um sinal negativo para o continente. Parece um filme que está voltando para trás", afirmou Barroso em uma entrevista coletiva, sem citar nomes de líderes da região.


E tem mais...Apesar da decisão do governo pelo polêmico padrão experimental japonês, a campanha de Lula enfrenta problemas televisivos... Marqueteiro de Lula mostra insatisfação com o tempo na TV
Talvez isso explique...
A festa das concessões "É impressionante como as coisas funcionam neste nosso País. Entra governo, sai governo e continua a mesma coisa. Vi a listinha dos felizes contemplados com canais de rádio e televisão. Em sua maioria, políticos e igrejas. No Brasil, a radiodifusão 'ou é altar ou é palanque'."


Governo Lula distribui TVs e rádios educativas a políticos"O governo Lula reproduziu uma prática dos que o antecederam e distribuiu pelo menos sete concessões de TV e 27 rádios educativas a fundações ligadas a políticos."
Ministros negam motivação política para concessões"O ministro das Comunicações, Hélio Costa, e seus antecessores no governo Lula, os deputados federais Miro Teixeira (PDT-RJ) e Eunício Oliveira (PMDB-CE), dizem que não usaram critério político para aprovar as outorgas de rádio e televisão educativas."


Minas Gerais recebe oito emissoras de TV na gestão do mineiro Hélio Costa"Político mineiro, o ministro das Comunicações, Hélio Costa, autorizou oito concessões de TVs educativas em seu Estado desde que assumiu o cargo, em 8 de julho de 2005." E nessa "Copa do Mundo" da TV digital podemos perder a liderança continental para a nossa principal rival. Em artigo recente da Tele Síntese:TV digital: Argentina pode assumir papel de liderança na América do Sul"Como, no Brasil, a decisão pelo padrão ISDB japonês é dada como certa, ficou para a Argentina o papel de liderança neste processo continental".


"'Nenhum outro país da América do Sul vai adotar o padrão japonês. Será DVD (europeu) ou ATSC (americano)', afirma Mário Baumgarten, CTO da Siemens, empresa integrante da coalização DVB no Brasil. Segundo analistas de mercado, a escolha de um padrão único seria um grande benefício para a região, que contaria com as vantagens de uma economia de escala."É, pode ser. A escolha do padrão japonês significa que o governo quer, antes de tudo, agradar às grandes emissoras de televisão do país em ano eleitoral. E vocês ainda têm dúvida de que o Brasil é "excrusividade" da Globo?
Mas como diz o presidente Lula, "em time que está ganhando não se mexe". Agora só nos resta descobrir "quem" estaria ganhando com essa decisão.
No momento, certamente perdem os defensores da democratização dos meios de comunicação e os produtores independentes, alternativos e comunitários. Desperdiçamos a chance de aumentar a diversidade e a pluralidade de conteúdos televisivos.
Ainda podemos ganhar a Copa do Mundo de futebol. Mas certamente estamos sendo derrotados na Copa por uma televisão brasileira melhor e mais democrática.


18.6.06

História da Comunicação: Diario de Pernambuco


Vídeo de apresentação acadêmica de pesquisa realizada na disciplina de História da Comunicação da Faculdade Maurício de Nassau, Recife/PE
Tema:
Diário de Pernambuco
Concepção, edição e trilha sonora: Sérgio Dourado
Pesquisa: Klever Schneider, Júlio Reis, Maurício Lutterbach, Rodrigo de Magalhães, Sérgio Dourado e Vanessa Marques
Centrífuga Produções, 2006

13.6.06

COPA DO MUNDO E AS ASNEIRAS


Como estamos em plena Copa do Mundo, não poderíamos deixar de publicar no Blog uma reportagem do site Comunique-se, que aborda as pérolas e os exageros do Jornalismo Esportivo. Vale a pena ler! Afinal se um dia nos dedicarmos a esse tipo de cobertura, não repitamos os mesmos erros ou pelo menos sejamos mais conscientes e menos engraçadinhos.

As besteiras da TV na Copa por Antonio Brasil

"O mundo já é uma grande bola de futebol". Com esta pérola do Jornal da Band, foi inaugurada mais uma edição do Febeaco, o Festival de Besteiras que Assola a Copa na TV brasileira. De quatro em quatro anos, centenas de jornalistas se superam para produzir os melhores e os piores momentos da cobertura televisiva da Copa do Mundo.

Não é tarefa fácil. Não há escola de jornalismo ou treinamento profissional que prepare um repórter para produzir tantas matérias em tão pouco tempo. Em uma "cobertura de saturação" pela TV, vale tudo e cobre-se tudo para garantir a audiência. Neste período, os mínimos padrões de qualidade são esquecidos ou deixados de lado. Na dúvida, toda e qualquer pauta sobre a Copa é aprovada sem hesitação. E dá-lhe matéria sobre qualquer coisa: lavanderia grátis para a seleção brasileira, entrevistas com roupeiros da equipe, vizinhos do Kaká ou mulheres que não entendem nada de futebol. Vale tudo para prender a atenção do telespectador. Pobre telespectador.


E já que não tem jeito, aproveito para sugerir que assim como premiamos o melhor gol, o melhor time ou principal artilheiro, também deveríamos conceder um prêmio especial ao pior momento ou pior matéria da Copa na TV brasileira. Assisti a todos os jogos e aos telejornais da Band, Record, SBT, Cultura e Globo. Todos com as mesmas gracinhas. Numa verdadeira maratona, procurei ver "quase" tudo que foi exibido em televisão aberta. Foi um enorme sacrifício. Haja paciência para tantos excessos. As mesas redondas ou programas especiais conseguem ser os piores. Tem que ser muito fanático por futebol para assistir a tantos programas sobre a Copa.


Querem alguns exemplos de Febeaco? E olha que só estamos no começo da Copa. O Galvão Bueno, obviamente, é insuperável hours concours. Selecionei algumas pérolas: "Você não erra Arnaldo, você se engana." "Olha o cabelo dele. Este juiz é conhecido no México como o pequeno Drácula."Deve ser realmente muito difícil não falar tantas bobagens durante mais de 90 minutos em tantos jogos. Mas, aqui entre nós, por que os nossos narradores e comentaristas, de vez em quando, simplesmente não calam a boca? Por que não acreditam no poder absoluto das imagens para descrever um bom momento de um jogo de futebol? Por que simplesmente não acreditam no poder do silêncio como forma de evitar tantas bobagens e constrangimentos? Afinal, futebol é bom de ver. Mas não é tão fácil de falar.

Bobagens ao vivo

Copa do Mundo é uma competição de excessos. Não há limites para a cobertura ao vivo. Principalmente, quando se trata de mostrar os não tão fanáticos torcedores de outros países durante as transmissões dos jogos. O pior são os shows de bobagens no intervalo. Nunca se viu tanto amadorismo. No último sábado, em meio a comemorações bem desanimadas de torcedores da Sérvia ou sei lá de que país, o jovem repórter da Globo, ao vivo, pergunta a uma velhinha se ela estava torcendo pela vitória da... Sérvia? Nenhuma resposta. Sem perder a pose, ele insiste e pergunta qual seria o placar final do jogo. A velhinha se balançando – parecia algo como uma dança ou uma doença, não estou certo – olhava fixo para o repórter e não respondia nada. Ao vivo, ele insiste mais uma vez e diz um placar para a velhinha confirmar no microfone. Silêncio, o terror dos repórteres ao vivo. Obviamente, a entrevistada não entendia ou não ouvia uma palavra do que dizia o repórter. Parecia matéria de carnaval no Sambódromo.


O mesmo constrangimento e amadorismo.Corte rápido para os narradores no estádio que, tão constrangidos como os telespectadores, não tinham nada a dizer. Nossos comerciais, por favor. TV ao vivo é sempre muito arriscado. Mas como não há competição...
O despreparo dos repórteres e da produção é evidente. A mesma situação constrangedora se repetiria no intervalo do jogo da República Tcheca versus EUA nesta segunda-feira. Ao vivo, o repórter Kovalick tinha que perguntar a um solitário torcedor americano, tranqüilamente sentado em um bar ao meio-dia de uma segunda-feira em NY, o que ele estava achando do jogo e se os EUA ainda podiam ganhar o jogo. A situação e a resposta foram ainda piores que as perguntas. "Não é nada mole, a dura vida" de repórter ao vivo em show de intervalo da Copa. Mas como não há competição, também não há problema.


Depois de tantos vexames e bobagens, tem horas que só nos resta torcer para o juiz apitar o final do jogo o mais rápido possível.
Programação alternativaNos outros canais, a cobertura da Copa do Mundo é um festival de mesmices previsíveis. Alguns tentam apelar para o escracho. A turma do Pânico, sempre na dianteira das baixarias televisivas, enviou suas estrelas. A entrevista da Sabrina Sato com o Ronaldo Fenômeno é séria candidata a um dos piores momentos da Copa na TV 2006. Foi uma mistura de grosserias com um show de constrangimento para o entrevistado e principalmente para o público. Atrapalhar e impedir o trabalho de uma equipe japonesa na Alemanha foi um desrespeito e não teve a menor graça. Bem no estilo do Pânico. Mas há quem goste. Aqui entre nós, sugiro que a turma do Pânico ou do Casseta façam uma transmissão alternativa dos jogos da Copa pelo rádio. Seria ótimo ouvir os comentários bem humorados ou as baixarias com imagens geradas pela TV alemã.


Não é simplesmente trocar o Galvão Bueno por outro narrador tão ruim ou pior. Na Copa da Itália, essa combinação de transmissão de imagens de TV "em silêncio" com programas alternativos de humor pelo rádio fazia o maior sucesso, principalmente entre os jovens. Depois mando a conta pela dica.
E quem não gosta de futebol? O que faz durante a Copa? A primeira opção é meio óbvia: desligue a TV. Mas caso não possa ou não consiga, sugiro dar uma olhada na nova programação da TV Cultura. Nesta mesma semana de cobertura de saturação, pude assistir a um excelente programa especial, o Ensaios, com o compositor Francis Hime.Não é TV aberta, pelo menos fora de São Paulo, mas vale a pena conferir. Outra sugestão é conferir os novos telejornais da emissora ou assistir ao programa de inovações eletrônicas, o Zoom.


O especial com videoarte foi excelente. Em tempos de Copa, para evitar tantas bobagens televisivas, a solução talvez esteja no controle remoto ou, como diz a propaganda da emissora paulista,
"Mais do que TV. É Cultura." Agora, só nos resta aguardar a estréia do Brasil e continuar selecionando os melhores e piores momentos do Febeaco.

11.6.06

PENSAMENTOS LOUCOS

Filho da mãe. Acha que ta podendo é?! Mas até que sim, carro lindo... Pena que o dono é um cururu. A saia está meio apertada, será que eu estou engordando de novo? Que dia é hoje? Claro! Vou ficar menstruada semana que vem – já estou na TPM – Ainda bem!!!
Droga, o sinal fechou. Será que dá para dar uma cortadinha. Um guarda! Freio e cara de santa... Nem é comigo...
Que horror! Estou parecendo um homem das cavernas, será que trouxe a pinça. Cadê minha bolsa? Inferno - caiu embaixo do banco. Será que o sinal vai abrir logo? Dá pra pegar a bolsa... Pára de buzinar filho da mãe! Eu também tenho buzina viu! (buzinando)
O guarda está anotando alguma coisa. Acho que não é comigo.
Que porcaria, vou chegar atrasada. Desta vez o Milton me demite. Acho que vou enfartar.
Será que a Marina conversou com o Hugo? Duvido. Aquela lá só fala se for debaixo de tortura. Mas também quem manda – o Hugo bem que merece. Pena que não posso contar para ninguém, a vingança das mulheres... Ainda é cedo para ligar para ela (olhando para o relógio).
É ali a boutique que a Fátima falou, disse que está com uma liquidação ótima! Que blusa horrível – nem de graça.
(com a bolsa enfim em mãos)
A minha pinça ficou em casa. Porcaria. Pra onde é que eu vou desse jeito. Ops, minha agenda! Tá aqui – Graças a Deus. Tenho que ligar para a empresa... (Maria, a pauta da reunião ta na minha mesa? Os relatórios dos vendedores já estão atualizados? Não! Marque uma reunião com eles ainda hoje de manhã, e ai de quem faltar)
Preguiçosos de meia tigela, acham que podem me desafiar?! Eles vão ver só.. Estão brincando comigo – logo com quem.
Desgraçado. Isso lá é lugar de parar! Anda logo imbecil... 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10. Adianta não. Calma – respire fundo – não se estresse – não adianta pressa...
(Liga o som) Estou precisando sair. Vou ligar para Sílvia, ela acabou o namoro e deve topar. Mas boate cheia de adolescentes é de lascar. Mas com essa sobrancelha não dá. Se der tempo de ir em casa antes quem sabe...
(muda a estação)
Tenho que fazer as unhas também... Vou dar um pulinho no salão na hora do almoço.
Como é?! Os juros ainda tendem a aumentar?! (escuta atenta a notícia)
(muda a estação)
Finalmente estou chegando. Só falta não ter vaga... Uma ali (acelera o carro). Graças a Deus. Nem dez minutos atrasada... Meu emprego por ora está salvo...

por Mariana Laurindo (advogada)

7.6.06

SUSPIROS DOS TRÊS


- Cadê ela?
- Está lá, num banco rezando.
- Deus do céu, não tenho coragem.
- Tarde demais, você prometeu.
Pensaram horas. Na verdade, o dia e noite anteriores foram de tormentos, as coisas oscilavam entre arrepender-se e engenharias da dor. Em serem rápidos, piedades, eficiências e mais outras transições. Carlos trouxera xilocaína, mas para passar nas próprias mãos, não queria senti-las enquanto as usasse. Vai ser terrível para mim guardar as sensações de segurar martelos, pregos e pele. Também pensava em suspender tudo em cordas e deixar cair de repente. Talvez a gravidade fizesse o seu papel, considerando a gravidade do caso. Mas ainda assim, vamos ter que esperar quando tudo estiver. Fez uma pausa procurando as palavras, consumado para tirar ela daí? Por acaso isto não é trabalho para as Madalenas?
- E acaso sou eu o pastor do meu irmão? Isso não tem como dar certo. Nuvens negras nos cercam.
- Tu e sua liturgia de cinemas. Para mim basta este vinho. Será que já foi abençoado? Com certeza não, sobras nunca são benzidas, tampouco bênçãos sobram. Venha, ajude-me aqui com a sua marmota, só quero que dê certo. Por mim, faríamos à moda antiga.
- Bota antiga nisso. Riu então. Riram os dois. Portanto, já estavam prontos. Penetravam no humor negro e sabiam que o próximo passo seria o desespero, colocando tudo a perder. Não podemos deixá-la na mão. Podemos sim, tanto é que deixaremos. E as gargalhadas anunciavam que já era mesmo hora de parar.
Havia ainda a dúvida se fariam tal qual foi feito com o outro, mas isso era impossível, não havia lança na igreja. Assim não vai ter tanto sofrimento como antes. E sem isso não há redenção.
- E você acha que ela não já se agarrou às pedras do Gólgota?
- Roberto, eu não sabia que você era religioso.
Respondera que sim, mas aqui dento, para ele mesmo. Um cara sensível, porém macho, é bom frisar. Macho p’ra caralho, já comi muito aquela lá. Tô sabendo, o cliente. Cliente não, me respeite e a ela também. Amantes. Era assim por amor que decidiu escutar. Conversaram noites antes disso tudo. Sobre o que já existia, o que passou, para onde iriam e todo o resto filosófico.
- O resto filosófico? Como assim?
Carlos não iria querer saber, do contrário seriam duas vítimas e um único algoz. Você bem sabe Carlos, você bem sabe. Afinal, não é você que se mete a escrever? Escrever sobre tudo?Aquilo era mais do que escrever. Eram mãos e objetos pontudos, mas a superfície era diferente. A tinta brotaria da caneta direto sobre o fato, viva, para cima. Indo deitar-se de pronto morna na textura subjacente da realidade. A coisa toda nasce e morre nas minhas mãos feito o cuspe de Deus.
- Vocês estão prontos?
- Ave Maria, ainda não Maria, reze mais. Peça mais perdão. Senão por você, mas por nós. Dê-nos forças.
Voltara para Carlos e constatava que ele ainda não está pronto. Queria convencê-lo de que não estariam matando, mas dando uma nova vida. A resposta veio tão truncada entre soluços que foi melhor dar-lhe uma bofetada e mandar ajudar a erguer as madeiras.
- Você pode até chorar, mas eu furo seu olho se tremer na hora H e fizer a bichinha sofrer.
- Eu já matei uma vez Roberto, isto não é novidade para mim.
A sangue frio, Carlos já matara. Anos atrás. Ele estava doente em ver aquela criatura com a qual convivera por tanto tempo sofrendo. Ver aqueles olhinhos molhados de tanta comiseração e desapego pela vida, latentes em um silêncio 80 x 50 em cima da estante. Era mais do que podia suportar. Eu cheguei do trabalho morto morto naquele dia, mas nem pensei duas vezes. Na verdade, pensara inúmeras vezes, estacionado na sala olhando-o. Dei uns quatro passos, tu sabe, minha sala é pequena. Criou coragem, molhou o braço até o cotovelo e voltou o ato com a mão cheia. Espremeu até os olhos saltarem ainda com vida. Um caiu no chão e o derradeiro ficou pendurado olhando para ele até ficar vazio, sem brilho, córnea, veias, líquidos e essência. Serviço feito, foi ao banheiro lavar as escamas grudadas na mão.
- Narrativa comovente. Agora vá chamar Maria. Estamos prontos.
Escolheram a benevolência de colocar as madeiras em cima de um móvel e embaixo de uma viga, presas com cordas. Inclinada, a cruz ficaria cômoda, até onde ela pode ser. O móvel ia ser chutado e aquela despencaria, pendurada pelos suspiros dos três. Não havia como errar. Eu tenho certeza, o tranco quebra os ombros abafando a tortura. Não vai ser preciso ficar esperando? Claro que não. Podemos inclusive voltar para casa e esperar o satanás que puxa pelos pés, ou o que quer que seja. As horas que causaram lá, a salvação da raça humana, aqui, passariam em segundos. A madeira era mole o suficiente para deixar entrar a loucura do ato e dura o bastante para segurar o peso de qualquer fraqueza momentânea.
Carlos batera na cruz enaltecendo sua nobreza em absorver todas as culpas.
- Homem, não faça disso um conto, é uma crônica.
- É verdade. É cronicamente inviável.
Maria encostou-se nos paus e, por piedade aos amigos, fechou os olhos. O martelo zumbiu o primeiro prego e nada mais além daquele ponto pôde ser lembrado pelos três.
Roberto teve que apelar para uma fúria assassina que se revelou inexistir à medida que o barulho fez as beatas da vizinhança crerem que o padre encomendava alguma novidade, uma surpresa aos fiéis, a ser revelada pela manhã. Por certo, pensaram elas, amanhã vamos ver uma Via Cruxis novinha em folha, pregada nas paredes, a outra já estava muito velha, amarelada, roída, parece até a original.
Carlos não sentia as mãos e temeu nunca mais ter coragem de fazê-lo. Passaria o resto da vida, que esperava ser breve, com as mãos lambuzadas de anestésico. A dormência subia pelos braços, alcançava a testa e nuca, ora quente, ora gelada. Não sabia que era sua agonia que o fazia passar as mãos na cabeça mais do que deveria.
Maria estava calma, nada daquilo chegava aos pés do que ela sentira em vida. Antes, tudo fora de uma quantidade que a abraçava com a frieza dos devires. Até que ela concluiu que os Jesuses devem mesmo ser crucificados, para alívio destes e dos viventes.
Finda a primeira parte, seis olhos se abriram em 216 dores diferentes. Três últimos atos de coragem, 6 últimos verbos.
Empurraram o móvel e um solavanco escorreu pela cruz até o ar, dois dedos do chão. Um pêndulo de horas e a sensação dos contrastes.
Carlos estava certo, a mulher ficou sem pescoço, sufocada pelo vitral, iludida pelas luzes das tais portas celestes e confundida entre a redenção do sofrimento pagão e a prataria que ostentava os corpos de Cristo.
A capela inteira se pôs estática, como uma perdiz imóvel na folhagem diante da eminência do faro da raposa. Prestes a arrancar vôo do lugar, horrorizada com o sacrilégio daquela repetição, só sossegou voltando a ser paredes quando Maria invadiu a sacristia com seus últimos ares, entupindo os quatros pulmões dos assassinos com uma certeza abafada.
- Vamos embora. Eu nunca mais que piso numa igreja.
A porta dos fundos bateu e a deusa continuou pingando letra pelas mãos. Vendo camas, calçadas, imagens, escuros, lembranças sem passarelas. Um estreitamento no pescoço, aquele tremor aleatório, a sensação do fim e a decepção em perceber que era a manhã quebrando a janela que lhe abria portas imaginárias, que não é a morte que alvorece, são as alvoradas que morrem. Adiantando-se às expectativas, um nada indefinível, sem nome, empurrou sua cabeça para dentro da água. Desta vez, a tia não acudiu para livrá-la dos meninos malvados nem a suspendeu pelos cabelos. Por baixo das pálpebras, esfriava-lhe o cérebro dizendo palavras que não existem, ausentava-lhe de substantivos. Pronto para recebê-la.
por Wagner Lucena

A IGREJA E SEUS TABUS


Num dos tópicos anteriores, falamos sobre as polêmicas em torno do filme "O Código da Vinci" e escrevi que a Igreja devia discutir outros temas relevantes. Lendo o site da BBC- Brasil, encontrei uma matéria que merece ser divulgada e discutida. A igreja mais uma vez mostra que não está disposta a rever velhos conceitos.
Cada vez mais, devemos refletir os ditos temas considerados tabus. Na disciplina de Sociologia e Filosofia da Faculdade Maurício de Nassau, começamos a discutir um pouco mais sobre o tema da homossexualidade. Claro, que precisamos avançar, pois a diversidade e os preconceitos enraizados são grandes.
Existe os que querem abertamente levantar bandeira, existe os que agem discretamente e são atuantes, estes prefrem abrir o jogo para "verdadeiros amigos" e àqueles que se reservam ao direito de não fazerem nada. Embora ache que a Igreja deva mudar, respeito o seu papel que exerce na sociedade. Acredito que as pessoas deveriam se unir mais antes de pré-julgamentos. Todos tem espaço para serem diferentes. Abaixo está a íntegra da matéria da BBC-Brasil.

Vaticano voltou a condenar, com ênfase, uniões homossexuais, aborto e inseminação artificial, em documento divulgado nesta terça-feira.Segundo as autoridades eclesiásticas, as leis que garantem a casais homossexuais os mesmos direitos do casamento tradicional são inspiradas por uma espécie de “eclipse de Deus”.


“Jamais, como agora, a instituição natural do matrimônio e da família foi vítima de ataques tão violentos”, afirma um documento do Pontifício Conselho da Família.
De acordo com o texto, a ausência de Deus teria provocado a grande crise atual, “que inspira leis contrárias à família tradicional”. Na visão da Igreja Católica, estaria ocorrendo uma profunda e preocupante mudança no modelo de família.


Inseminação, Aborto, Camisinha

“Há uma apologia da família monoparental, reconstituída, homossexual, lésbica. Casais insólitos, formados por homossexuais, reivindicam os mesmos direitos reservados a marido e mulher, e até mesmo o direito de adoção. Mulheres que vivem em união lésbica exigem leis que lhes dêem direito de inseminação heteróloga”, diz o texto.
O Vaticano volta a afirmar que só o amor entre homem e mulher representa o fundamento do casamento, que forma a família humana e transmite a vida aos filhos, educando-os para a vida social.

O Pontifício Conselho para a Família fala também de inseminação artificial e uso de embriões, denunciando um perigo de manipulação genética.“Técnicas funestas, legalizadas em alguns países, podem dar ao homem o poder de fabricar outro homem e também de destruí-lo. A ciência e a técnica convenceram algumas pessoas a pensar que tudo é fruto da evolução e que o homem não tem nenhum Deus.”
Com este documento, a Santa Sé volta a confirmar também sua posição contrária a qualquer tipo de método anticoncepcional artificial.

Não há menção a problemas como Aids e medidas para evitar o contágio, mesmo entre casais tradicionais.
Algumas semanas atrás, o ex-arcebispo de Milão, cardeal Carlo Maria Martini, se manifestou a favor do uso de camisinha para casais com problemas de Aids. Mas sua posição foi criticada por diversos expoentes da Igreja, inclusive o ultraconservador presidente do conselho para a família, o cardeal Lopes Trujillo, que assina o documento desta terça-feira.

Aborto e inseminação artificial também são criticados nas 69 páginas do texto do Vaticano. Conforme a visão da Santa Sé, o aborto é um “delito abominável” e deve ser punido.No documento está escrito que hoje existe intenção de banalizar o aborto, que é usado como método para não ter filhos, e não considerado um crime pelas legislações de vários países, uma idéia “inconcebível”, segundo o documento.“Nenhuma circunstância, finalidade ou lei poderá jamais tornar lícito um ato ilícito porque contrário à lei de Deus.”

O texto também fala sobre “os riscos da educação sexual”, indicando como solução o ensinamento da castidade.O título do documento é “Família e Procriação Humana”, e foi divulgado em vista do próximo encontro mundial das famílias, na Espanha, no começo de julho.Uma nova legislação espanhola, uma das primeiras providências do governo Zapatero, reconhece os casamentos homossexuais. Isto provocou polêmica e ressentimento entre o Vaticano e as autoridades espanholas.

A posição da Santa Sé sobre família, inseminação artificial e aborto deve condicionar também o debate político na Itália, poucos dias antes da posse do novo governo.O programa do Executivo de centro-esquerda prevê a legalização das uniões homossexuais e a revisão da lei sobre a inseminação artificial.

O Centrifuga abre agora o espaço para você comentar.. Concorde ou discorde, mas pense, reflita! e não deixe de divulgar aos eus amigos o nosso blog.

Ósculos e Amplexos para todos!

Klever Schneider