CENTRÍFUGA

26.6.07

Quem escapa ?





“Sou vítima do esquadrão da morte moral”. Esta é a frase que o presidente Renam Calheiros, tem usado para se defender das acusações que vem recebendo nas últimas semanas. Vivemos mais um momento crítico da história política de nosso país. Se é que podemos chamar assim. Corrupção, desvio de verbas que seriam destinadas a programas sociais, Impunidade.


Em meio a tanta polêmica, surgem uma leva de outros políticos metidos em trambiques. Quem escapa? É difícil dizer. Em meio a conchavos e enriquecimentos estratosféricos, ficamos aqui, esperando que algo aconteça. Mas sabemos que desde que mundo é mundo, a corrupção faz parte do nosso dia a dia. Dos pequenos deslizes a grandes proezas!

E o povo continua rindo, levando com seu jeito de levar a vida, tentando creditar que ainda somos o país do futuro cantando em letras de algumas músicas. Para levantar ainda mais o asunto em questão, acrescento as informações do Mercado Ético, na última semana, “US$ 3 trilhões são desperdiçados por ano no mundo devido à corrupção. No Brasil, 70% dos municípios sofrem com o mesmo problema, segundo a Controladoria-Geral da União (CGU). No caso das empresas brasileiras, cerca de 25% alegam ter um custo entre 5% e 10% de seu faturamento com o pagamento de propinas. Aproximadamente 70% gastam até 3% com a prática. Com tudo isso, o país perde quase R$ 10 bilhões por ano.”

É pouco ou querem mais?










20.6.07

O MANIFESTO DOS NEOPRIVATUS E O PARQUE DONA LINDU

POR Luís Manuel Domingues (luismdomingues@uol.com.br) Vejam o P.S.


Recentemente, um certo Senhor de nome Plattus Publìcus, um quinta coluna infiltrado entre os que fazem oposição ao Parque Dona Lindu, ex-militante do PPS, onde aprendeu o ofício de quinta coluna, contudo, um cidadão do BEM e ZEN, e não do DEM ou DEMO, repassou a minha pessoa, através de canais mediúnicos competentes, algumas informações recolhidas sobre as intenções dos que são contra a construção do referido Parque, em Boa Viagem. As informações foram recolhidas em algumas reuniões realizadas em apartamentos vizinhos ao futuro parque, nos inúmeros encontros públicos a dois três, quatro ou cinco gatos pingados nos melhores point de Boa Viagem, classificados de in por João Alberto, e nas intermináveis intercomunicações sofísticas/virtuais pela internet. Trata-se de um retrato ainda não desvelado dos que fazem oposição à construção do Parque Dona Lindu, mas, muito mais do qualquer outra coisa, desvelam os anseios, as angustias, as obsessões, os desejos e os sonhos de consumo dos que almejam algo para o local do parque, menos que seja algo público e para toda a cidade.

Assim sendo, em épocas de neo qualquer coisa, detectamos que vem aí o neoprivatismo ou neoprivatus, agora desvelado pelo Sr. Plattus Publìcus. É a visão de mundo dos que defendem a adequação do espaço do público à luz de seus interesses. Ou seja, uma meia dúzia de gente da privada que querem maquiar as suas demandas com cara de privada em atitudes eufenisticamente denominadas de públicas. Para tanto, inspirado no ideário de seus últimos rebentos, aquelas associações de amigos de qualquer coisa para conversão da coisa pública em privada (na realidade, é o Movimento Social dos Sem-Bullervar, membros da classe média sem jardim de inverno, cobertura, amplos terraços na varanda, cobertura etc.), conseguimos obter com exclusividade o elenco de reivindicações e as razões não tão ocultas dos neoprivatus contra o Parque Dona Lindu, escrito por sua elite pensante e apropriado de forma sorrateira pelo Sr. Plattus Publìcus em uma reunião realizada numa cobertura cedido gentilmente por um dos mecenas simpatizante e sensibilizado com o Movimento Social dos Sem-Bullervar. Eis as demandas dos neoprivatus:

- um parque que seja aquele jardim de que abrimos mãos em nossos prédios para dar lugar a um estacionamento mais amplo, onde agora acomodamos de três a quatro carros por apartamento;
- um parque onde nossas crianças possam brincar e pintar o número correto sem terem que se traumatizar com a visão e o odor das crianças andarilhas oriundas dos assentamentos residenciais subnormais;
- um parque que seja a extensão de nossas varandas arborizadas e agora com pouco espaço para ampliar o nosso verde privado. Portanto, um parque que não será o nosso quintal, mas o nosso jardim de verão, inverno, primavera, outono e até, caso seja necessário, de El Niño;
- um parque repleto de equipamentos de lazer para nosso usufurto (desculpem, é usufruto) exclusivo, pois as nossas rendas estão comprometidas com a instalação de parques aquáticos em nossos prédios e não temos mais, portanto, renda e espaço para custear e instalar equipamentos para o lazer neles;
- um parque para passear com nossos cachorrinhos de estimação e eles poderem relaxar da vida enclausurada em nossos apartamentos, pois os coitadinhos também precisam de área verde e fazer suas necessidades ao ar livre;
- um parque para fazermos nossos exercícios, dando prosseguimento as sessões de malhação que fazemos em nossas academias e/ou realizar aqueles exercícios com os nossos personal trailer;
- um parque com instalações adequadas para fazermos nossas confraternizações, afinal de conta os salões de festas de nosso prédios são pequenos para reunirmos os milhões de amigos que temos;
- um parque no qual possamos passear tranqüilos, tendo em vista que está difícil andar pelas ruas caóticas de Boa Viagem, empilhadas de automóveis por todos os lados e de gente estranha de outras paragens por cima e por baixo;
- um parque onde possamos acomodar nossas tendas para as passagens de anos, sem termos que nos misturar com o mundão de gentes que se amontoam a beira-mar a cada reveillon;
um parque onde possamos relaxar, ler Caras, Veja, Piauí e conversar com os amigos sem o inconveniente de estranhos e assegurando o nosso sossego pela empresa de segurança contratada;
- um parque para podermos olhar e mostrar o que é o verde aos nossos filhos. O mesmo verde que debandamos de outras paragens quando exigimos viadutos e autopistas para a circulação rápida e eficaz de nossos veículos;
- um parque que tenha um estacionamento reservo para acomodar nossos veículos nas horas em que só damos uma passadinha no apartamento e para os amigos estacionarem seus carros quando nos visitam, pois deixá-los nas ruas estacionados é deixá-los a mercê dos vândalos circulantes;
- um parque que seja um jardim só nosso e de mais nenhum desses ninguém periféricos que invadem nossos espaços privados, digo: públicos;
- um parque que seja um shopping park, tipo ecológico e de entertainment, que nada tenha haver com a cidade que o cerca e seja um paraíso hiper-real só nosso, atendendo, dessa forma, a demanda de nosso movimento: os Sem-Bullervar;
- por fim, por qual razão devemos denominar um parque com o nome de uma retirante e mãe de um ex-operário, aquele sapo barbudo das épocas passadas quando podíamos exalar nossos preconceitos sem medo de represálias (onde está a democracia e a liberdade de expressão?), quando temos gente mais culta e a altura de nossos méritos intelectualoides e economicistas, como Lya Luft, Diogo Mainardi, Jô Soares, Arnaldo Jabor, mentores de nossas futilidades, clichês e estereótipos que tanto adoramos.

Enfim, eles defendem uma tese que fundamenta o elenco de reivindicação, que segundo o Sr. Plattus Publìcus pode ser traduzida na palavra de ordem dos neoprivatus: um parque res privatus e não res publica. Esta palavra de ordem é fundamentada no seguinte paradigma: já está provado que tudo aquilo que é público, cedo ou tarde, afastará os com méritos, rendas e status da possibilidade de poderem usufurtar (corrijam de novo, é usufruir) aquilo que os sem tudo ameaçam usufruir.

Eis, portanto, Senhores e Senhoras a sanha ensandecida dos NeoPrivatus: os do tudo pela privada.


P.S.: As informações contidas neste manifesto oculto foram recebidas através de um ato de mediunidade, realizado pela internet e pelo telefone móvel (o nosso celular), entre o Sr. Plattus Publìcus e este cidadão que o transcreveu e o adequou. Tentei ser o mais fiel possível na psicografia da psicofonia do Sr. Plattus Publìcus. Portanto, qualquer imprecisão na transcrição é de minha inteira responsabilidade.


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15.6.07

UMA MÚSICA BRASILEIRA

A música popular brasileira tem seus altos e baixos ao longo de sua história. Revezam-se picos de extrema criatividade, com surgimentos de novos talentos e períodos de quietude, com extrema timidez na produção artística inovadora. Grande parte da culpa desses períodos menos férteis se deu por conta da implacável política de radiodifusão brasileira, atoladas na prática do “jabá”, assim como do grande período em que vozes e espíritos foram silenciados pela pressão da ditadura. Ainda assim, mesmo que por metáforas, grandes expoentes artísticos brasileiros continuaram exercendo o direito de produzir arte.

Mesmo a efervescência da Bossa Nova, taxada muitas vezes de alienada por conta de uma vertente de compositores que cantava sambinhas sobre barquinhos e as belezas cariocas, não pode deixar de ser avaliada como positiva, tendo em vista o grande valor que representou no âmbito maior que é a MPB. Assim como ajudou na difusão mundial da música brasileira que se deu pela proximidade que a Bossa Nova tinha com o Jazz e imensa inspiração de seus representantes como Vinícius de Morais, Tom Jobim, Carlos Lyra, Baden Powell, João Gilberto e Marcos e Paulo Sérgio Valle, apenas para citar alguns.

Hoje em dia, ao contrário de muitas riquezas musicais brasileiras como o Frevo e outros ritmos regionais menos privilegiados pela mídia nacional, o Samba e a Bossa Nova continuam num processo constante de aprimoramento e hibridização saudável. O projeto Bossacucanova, de Alexandre Moreira, Márcio Menescal e Marcelinho da Lua, é prova de que a Bossa e a MPB se misturam perfeitamente com o jazz eletrônico altamente em voga na Europa, Estados Unidos e Japão. Artistas brasileiros pouquíssimos conhecidos (e reconhecidos) na própria pátria, têm carreiras internacionais a dar inveja a muitas bandas e cantores do mainstream europeu (leia mais no texto anexo). Tal fato se dá também pela inundação do mau gosto popularesco presente na atual produção musical brasileira, mantida por uma indústria cultural que massifica produtos desprovidos de qualidade. O foco é o lucro. Muitos não param para pensar por que gostam de certas bandas de brega, axé e forró estilizado. Será que o fato de essas “coisas” poluírem todos os ambientes possíveis e imagináveis onde quer que vamos influencia no processo? Sem falar da maioria das rádios, que entopem as suas programações com esses estilos ou com o velho pop internacional e seus hits de um mês ou dois de vida útil antes de se tornarem enjoativos. E vamos ficando todos com um gosto musical empobrecido.

O que não é compreensível é a falta de visão de muitos que detêm o poder da mídia no Brasil. Não enxergam que há sim um público que aprecia uma música de boa qualidade. Também difícil de entender o receio de insistir em dar o justo apoio àqueles que ainda tentam produzir uma arte musical inovadora e de qualidade em nosso país. E não estou falando em nossos ícones Caetano, Chico e Milton. Estes estão sempre com tudo. Falo de Seu Jorge, Farofa Carioca, Pedro Luís, Mart’nália, Bebel Gilberto, Lula Queiroga, os rapazes do Bossacucanova, entre tantos outros. É inevitável uma pergunta: até que ponto iremos descer o nível até que se faça alguma coisa?


VOZES DESCONHECIDAS

Bebel Gilberto, Bïa Krieger, Luca Mundaca, Cibelle Cavalli, Marcela Mangabeira. Você já ouviu falar dessas mulheres? É possível que não, tendo em vista que se tratam de cantoras brasileiras que, ou ainda não conseguiram seu espaço na grande mídia, ou já são conhecidas internacionalmente porém são completamente ignoradas pela mídia brasileira.

Bebel Gilberto, filha de Miúcha e João Gilberto, sobrinha de Chico Buarque e ex-parceira de composição de Cazuza, é figurinha carimbada nos Estados Unidos, Europa e Japão. Com quatro discos na carreira e alguns prêmios ela é quase uma desconhecida no Brasil. Mesmo caso de outras cantoras como Cibelle, Bïa Krieger e Luca Mundaca. A primeira já chegou até a fazer parte da trilha sonora do filme “O Jardineiro Fiel” com a deliciosa canção “Só Sei Viver no Samba”. Também já gravou com Celso Fonseca (outro talento que beira o desconhecido) “Ela é Carioca”, que integrou trilha sonora de novela global. Mas a falta de continuidade da divulgação fez com que passasse desapercebida pelo público.

Bïa Krieger é dona de uma voz doce e cadenciada. Divide-se numa ponte aérea entre o Brasil, sua terra natal, o Canadá e a França. Nem pense em escutar uma canção dela em algum lugar no Brasil (talvez no programa Sábado Som, da Rádio Capibaribe ou no som do meu quarto). Primeiro que metade do seu repertório é composto de versões em francês de clássicos da nossa MPB. E em segundo lugar, os quatro discos da cantora e compositora nem foram lançados no Brasil. Ela é sucesso de crítica na Europa e Canadá, mas pelo jeito não “boa o suficiente” para o delirante mercado brasileiro. Destaque para as canções “Mariana”, “Coer Vagabond”, que é uma versão em francês de “Coração Vagabundo” de Caetano Valoso e “Portrait en Noir et Blanc” releitura de “Retrato em Branco e Preto” de Tom Jobim e Chico Buarque. Chico aliás já elogiou publicamente as adaptações de suas canções ao Francês feitas por Bïa. Ave Chico.

A brasileira nascida no Chile, Luca Mundaca, teve seu início de carreira atrapalhado pelo 11 de setembro. A cantora e compositora havia assinado com a Atlantic Records e estava para lançar seu primeiro disco quando aconteceu o atentado terrorista. As tribulações decorrentes do fato levaram a Atlantic a dispensar muitos de seus artistas e Luca estava entre eles. Mas uma produtora independente americana, a Lumeni, resolveu apostar na moça e a enviou ao Brasil para produzir seu primeiro álbum: “Day By Day”, de 2004. A canção “Há Dias” foi escolhida em 2006 pela Putumayo World Music Records para integrar uma compilação batizada “Brazilian Lounge”. A repercussão foi tão boa que a Putumayo lançará mais uma canção de Luca, “Não se Apavore” este ano na coletânea intitulada “Women of the World Acoustic”, com direito a show de lançamento em Nova Yorque e tournê de divulgação do CD pelos Estados Unidos.

Por fim, é válido apresentar a cantora recifense Marcela Mangabeira. Ela é pernambucana mas começou sua carreira no Mato Grosso. Desde o início recebe prêmios por seu vocal suave e sua presença marcante. Já abriu shows de Zélia Duncan, Zé Ramalho e Paulinho Moska, tendo ainda acompanhado Roberto Menescal e o Bossacucanova em turnê pela Europa. Em 2003 emprestou sua voz aos discos “Ipanema Lounge”, do Bossacucanova e “Copa Bossa”, de Márcio Menescal, que tiveram lançamento mundial e uma ótima repercussão. Seu disco de estréia, “Simples”, foi lançado no Japão em 2005, onde Marcela é ovacionada como uma grande intérprete da moderna Bossa Nova. Apenas este ano o álbum chegou ao Brasil. Como disse Nelson Mota: "Marcela Mangabeira aparece como uma das melhores revelações do ano". Não discordo. Destaque para sua interpretação de “Os Grilos” de Marcos e Paulo Sérgio Valle e “Para Ti” de Marcio Menescal e Bernardo Bittencourt.

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7.6.07

FIM DA LINHA

Suicídio. Este foi o tema da matéria veiculada pelo Jornal do comércio, no último domingo, abordando o tema e falando das ações do Governo Federal para trabalhar a prevenção ao suicídio. "Combate à morte voluntária", esta foi a manchete da revista JC, para chamar a atenção de um fato alarmante e que passa despercebida das Políticas Públicas para o assunto. Segundo Orientações do Manual para Profissionais da Mídia sobre a prevenção do suicido, da Organização Mundial da Saúde (OMS), incluí dicas para que os veículos de imprensa não dêem detalhas do planejamento da morte nem sua execução. Lembro-me agora do Orkut e de diversas comunidades que explicam como praticar o suicídio, e muitas delas continuam no ar, sem qualquer restrições. Nestas comunidades, existem os profetas assassinos que ajudam as pessoas em estados depressivos chegarem ao ato que deveria ser coibido.



A matéria de Cinthya Leite (JC), coloca alguns dados interessantes. No Brasil, são 4,5 casos para cada 100 mil habitantes enquanto que no Japão este número chega a 25 mortes por 100 mil habitantes. Os levantamentos mostram ainda que 90% dos que resolvem dar um fim as suas vidas, falam direta ou indiretamente, aos amigos e à família, o desejo de se matarem. No Rio Grande do Sul, minha terra natal, ocupa, infelizmente, o primeiro lugar. Segundo censo realizado em 2004, pelo Ministério da Saúde, foram 9,8 casos para cada 100 mil habitantes e o pior é que, em, alguns casos, dependendo da faixa etária, as taxas chegam a 30,2 casos. A terra que me colheu, Pernambuco, a taxa é de 3,5 para cada 100 mil habitantes. Mas aí entra outro dado que merece reflexão. Em cidades do sertão nordestino, como Itacuruba e Petrolândia estes números ultrapassam a média nacional, 26,1 e 10,1, respectivamente. Mas é importante ficar atento, muitos que praticam o suicido não têm um transtorno mental propriamente. Os problemas estão relacionados com os pais, desproteção, traição de amigos e namorados.



Trouxe ao Centrífuga este assunto por dois motivos: este é um tema pouco abordado e na maioria das vezes cheio de clichês e segundo, há um ano, perdi minha irmã mais nova pelo mesmo motivo. Infelizmente não tive como ajudá-la no dia a dia, pois, estou longe de minha terra há seis anos. Meu contato era no mundo virtual. Não a vi crescer como queria e sensibilidade não me permitiu apurar o vestígio de algum problema. Na quarta-feira 13 de junho de 2006, ela me disse que estava com saudades e que gostaria que eu fosse no final do ano visitá-la. Não deu tempo!No dia 16, três dias depois, ela escolheu um outro caminho. Era o fim da linha!




Ósculos e Amplexos para todos!






4.6.07

GRITO JUSTO

Muitas vezes o que o governo decide pode causar tumulto e revoltas na sociedade. Inegavelmente faz-se necessário ouvir os anseios populares; não somente no intuito de agradar os eleitores, mas também de obedecer à vontade dos verdadeiros titulares dos bens públicos: o povo.

Há, porém, que se considerar certas ações impopulares, corajosamente levadas a cabo por alguns governantes, mas que se mostraram extremamente necessárias para um aumento na qualidade de vida das pessoas. Um exemplo disso foi há alguns anos, quando o prefeito do Recife proibiu a circulação de transportes alternativos (vans e kombis) em áreas centrais do Município. Lógico que a motivação derivou em parte pela pressão das empresas de viação metropolitana, nada satisfeitas com a diminuição de seus lucros, mas a repercussão inicial de grande parte da população, sem falar nos revoltosos kombeiros, foi extremamente negativa e permeada por protestos.

Medidas impopulares fazem parte de qualquer gestão pública. Acrescente-se a este fato a prática comum de nossa sociedade de apenas bradar sua revolta no momento que lhe “apertam o calo”. E não raro apenas alguns segmentos atingidos diretamente pelo fato, que terminam por carecer do apoio geral para levarem adiante suas demandas. E muitas vezes não conseguem. Sem desmerecer lutas ou causas, algumas ações de protesto têm suas motivações derivadas muitas vezes por interesses ocultos, que não espelham, nem de longe, as justificativas aparentes da luta que se está participando. Os movimentos para a manutenção dos “direitos dos trabalhadores” garantidos pela CLT, por exemplo, a quem interessa mais? Certamente não para a legião de desempregados que vagam em nosso país sem ter oportunidade de trabalho. A eles são negadas oportunidades, muitas vezes porque o custo de um empregado, de acordo com a nossa Consolidação de Leis Trabalhistas, é alto de mais e arriscado de mais para grande parte das empresas de médio e pequeno porte. E o risco grita mais alto na hora que se precisa contratar alguém. Melhor sobrecarregar os que já estão com a carteira assinada, delegando-lhes novas funções, do que sobrecarregar ainda mais a contabilidade. Não esqueçamos que a carga tributária brasileira beira a indecência.

Impopulares ou não, decisões são tomadas diariamente pelos nossos representantes eleitos. Concordando ou não com elas, temos que viver com as repercussões que vêm de tais ações. O protesto é válido, mas nem sempre devemos levantar nossas vozes sem ter a exata consciência do que está acontecendo e do que há por trás dos fatos. As entrelinhas estão ali para serem percebidas. Mesmo diante de toda a superficialidade com que os assuntos mais sérios são tratados num país como o Brasil, há a possibilidade de atravessar esta superfície e observar bem mais do que nos é posto para o rápido consumo. Exercer nossa voz continuará sendo o ponto forte de nossa democracia. Mas o poder de uma única voz consciente pode ser imensamente maior do que os brados e urros de uma massa de manobra.