CENTRÍFUGA

26.8.06

Tem formiga branca no açúcar

Hoje recebemos a Crônica do Jornalista gaúcho, Cristiano Devicari, que agora fará parte de nossa lista de colaboradores.Seja bem vindo!




Minha nona ao desconfiar de alguma coisa sempre dizia: - Tem formiga branca no açúcar! A expressão era incompreensível para um menino de apenas seis anos. Ao crescer observando o cotidiano de uma sociedade de moedas a estipular valores e conceitos, entendi tudo: certos comportamentos humanos assemelham-se aos das formigas brancas que, de pote em pote, visitam muitos açucareiros até esvaziá-los. Algumas ingênuas pela inexperiência da vida; outras perversas por natureza.

Geralmente, à noite, disfarçada em becas e perfumarias, essa criatura alva costuma deixar o formigueiro da periferia para observar vitrines de grifes, antes de atacar os fartos açucareiros importados com rodas de magnésio e vidros fumês. A regra é única: com açúcar e sem afeto, contrariando a canção de Chico Buarque.

Um amigo, certa vez, cruzou no caminho da mais perversa delas. Ousada, a criatura usava as armas disponíveis para nutrir-se até o último cristal do pote, ao passo que o menino, fascinado, contemplava o remexer dos quadris da dita. Miúda e pequena revestia-se de cascas arbóreas ou determinadas espécies de plantas trepadeiras para ocultar o imenso vazio interior; repleto de indiferença. Nela, o açúcar das doces palavras proferidas num leito de gozo transmutava-se num ácido e azedo vinagre, após um infrutífero telefonema no celular. Enquanto isso do outro lado da linha, lágrimas. Ao mesmo tempo bela; horrorosamente fria. Talentosa na matemática aprendeu desde cedo com a família a contar vintém e a calcular a direção do próximo banquete.

Nos encontros e desencontros da vida, as pessoas acabam recebendo a inesperada visita dessa espécie, que entra sem pedir licença e rouba os cristais da alma, deixando um imenso vazio em sua presa.

Encantadora formiga branca, com seu apetite insaciável não percebe o destino fatídico: acabará submersa numa xícara de chá, enquanto outras gerações de formiguinhas seguem em direção aos açucareiros e meninos choram pela falta de açúcar no café da manhã.

Cristiano Devicari
Jornalista R.P. 9337 DRT/RS
devicarimissoes@gmail.com

4 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Isso aí tá é com cara de dor de cotovelo solidária daquelas "marvada"...
Tadinho do tal amigo aí, rapaz.

00:37  
Anonymous Anônimo disse...

e ai

22:34  
Anonymous Anônimo disse...

Achei fera!

Tem muita formiga branca por aí!

Interesseiras que se vendem para o cara mais besta e mediocre. Só querem o açúcar do dinheiro e depois se entregam para o primeiro babaca q vem pela frente. Não se dão o valor, não valem nada.

RTS - Guarulhos

22:37  
Anonymous Anônimo disse...

Oi...Thayse me indicou o site, gostei mesmo....Parabéns....Continuem escrevendo o que muita gente não faz...parabéns por expressar tão bem suas ideias (axo)....Alexandre

18:59  

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