CENTRÍFUGA

1.8.06

SEDENTÁRIO

A manhã já anunciava que aquele seria mais um dia preguiçoso... não que eu seja um sujeito preguiçoso, mas há dias em que não consigo parar de pensar em não fazer nada (!). Aliás, "fazer nada" deveria ser considerado uma arte. Claro, pois são nesses momentos que, provavelmente, surgiram as maiores idéias artísticas existentes. Bem, mas não é exatamente da preguiça que eu venho falar neste momento.

Me levantei com muito sacrifício, abri a porta do meu quarto e, aparentemente, não havia ninguém em casa. Também, já passavam das nove, todos estavam trabalhando. Apenas eu continuava a exercitar meu ócio. Caminhei até o banheiro e, olhando para baixo enquanto urinava, percebi tamanha proeminência que tomava conta de parte de meu corpo. Pois é, minha barriga parecia crescer sem parar. Se bem que ela já foi maior, mas naquele momento parei, olhei diretamente para ela, e comecei a refletir sobre aquele pedaço de mim.

Comecei a me lembrar das diversas barrigas que passam diante de meus olhos diariamente: redondas, caídas, flácidas, retas, malhadas, definidas, peludas ou lisas. É incrível como esses "detalhes" se tornam características tão marcantes numa pessoa. Afinal, é uma das primeiras coisas que vem de encontro com você ao avistar alguém.

E, parado, imaginava as inúmeras maneiras de me livrar daquele incômodo problema. Se bem que minha preguiça me fez pensar em apenas duas: malhação e dieta. Senti que suava só de pensar.

Fui até a sala, liguei o televisor e sintonizei um daqueles programas matinais femininos. Nele, uma moça em trajes apertados mostrava seu corpo definido, suas pernas bem torneadas, sua barriguinha que mais parecia um tanquinho (me lembrei da pilha de roupas sujas que tenho que mandar lavar), seus braços firmes e seu rosto de menina. Tentei imaginar quanto tempo uma pessoa leva pra ficar daquele jeito. O modo animado com que ela demonstrava os exercícios fazia com que eles parecessem tão simples. E, olhando essa simplicidade, senti-me tentado a deitar-me no chão e esboçar algumas abdominais. E lá fui eu: posicionei-me colocando as mãos na nuca e flexionando os joelhos. Iniciei a contagem imaginando-me cheio de músculos!

Um...

Dois...

Três...

Quatro...

Cin... Cinco...

Seee... Seis...

Seeeeeet...te... (ufa!)

Ooooi..... t...o.....

Nooo....

Nossa, não aguentava mais! Nem consegui terminar de falar o nove, imagine chegar no dez! Permaneci jogado no chão da sala, parado, mal conseguindo me mexer. E a moça da televisão continuava, linda e sorridente, a convidar-me àquela suada tarefa.

E jogado eu continuei mais alguns minutos. Lembrei-me do café da manhã que me aguardava. Finalmente levantei-me e fui de encontro à cozinha, com a mão no abdome cansado depois de uma série tão difícil. Já me encontrava no corredor quando voltei para desligar o televisor. Olhei mais uma vez para a moça que se exercitava, sorri para ela e desliguei o aparelho.

Entrei na cozinha e tratei de cuidar da minha barriga. Afinal, tenho que agradecer a Deus por ainda ter uma. E por ainda ter comida para mantê-la. Pior é quem passa fome e é obrigado a ter um corpinho magrinho. Essas pessoas sim, é que mereciam ter uma bela pança! Pelo menos seriam felizes... ou não! Afinal, se essas pessoas tivessem uma barriga como a minha, talvez estariam na frente da TV idolatrando a moça linda, magra e sorridente.

E comendo me senti feliz! Feliz com meu corpo, com minha saúde e com meu sedentarismo! E se alguém acha que isso atrapalha no amor, saibam que na hora da conquista a gente dá um jeito. Levanta o queixo, olha pra frente, estufa o peito, murcha a barriga e parte pro abraço! E olha que funciona!

por João Paulo Novo

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