CENTRÍFUGA

10.7.06

Marketing Político

Pois é, a Copa passou e agora a competição é outra. As bandeiras terão outras cores e como qualquer campeonato, as eleições gerais desse ano promete. Ainda mais se pensarmos nos bastidores da eleição e aí lembramos que por trás de um político, está o Marketing Político.
No mês de Maio, Carlos Brickmann esteve em Recife para o Congresso de Comunicação organizado pela Faculdade Maurício de Nassau e é dele o artigo que divulgamos no blog. No artigo ele faz elogios ao artigo do repórter Gabriel Manzano Filho.
Ósculos e Amplexos para todos!
Klever Schneider
Surpresas por Carlos brickamn
Na esteira das contas atribuídas a Duda Mendonça no exterior, muita gente andou pregando o fim do marketing político nas eleições – algo moderno, imaginam, que só serve para engordar o custo das eleições. Mas a imprensa de vez em quando nos reserva agradáveis surpresas: O Estado de S.Paulo publicou um excelente material do repórter Gabriel Manzano Filho, mostrando como Cícero, o tribuno romano que viveu há 21 séculos, já usava o marketing político. Veja o artigo abaixo.

Como não mudar nada na política em 2 mil anos
Gabriel Manzano Filho / copyright O Estado de S.Paulo, 4/6/2006
Um pequeno panfleto de 2 mil anos atrás, escrito por um administrador de província romana, traz para os eleitores brasileiros uma boa e uma má notícia. A boa é que a política brasileira, com seus mensalões, acordões e absolvições, não é de modo algum pior que as outras. A má é que, visto que nada mudou nos últimos 21 séculos, não há razão para se achar que vai melhorar daqui para a frente.


O texto em questão é o Comentariolum Peticionis – em bom português, Breve Manual de Campanha Eleitoral. Escreveu-o, em 64 a. C., Quinto Túlio Cícero, para seu irmão famoso, o orador Marco Túlio Cícero, que naquele ano decidiu candidatar-se a cônsul, uma espécie de magistrado supremo do Senado romano. Não sendo da nobreza, Cícero queria convencê-la a votar nele, mas ao mesmo tempo precisava manter seu prestígio com o povo.

O manual é um espantoso retrato de como as coisas nada mudaram, ao longo de 2 mil anos. "Põe em tua cabeça que tens de fingir o que não tens de natureza", aconselhava Quinto ao irmão, "de modo que pareças atuar de modo natural." "Isso é imprescindível a um candidato, cujo semblante, rosto e palavras deverão mudar e adaptar-se ao sentimento e à vontade de quem seja com quem se encontre."

Quinto dividiu seus conselhos em 58 pontos, nos quais adverte o irmão sobre como e o que falar com as pessoas, a quais grupos agradar, o que não dizer, como explorar os defeitos dos rivais. "É mais importante ser um bom candidato do que uma boa pessoa", ensina ele. Sua primeira sugestão: Cícero devia ir todos os dias, já de manhã, para o Fórum, no centro de Roma, para a "prensatio" – o aperto de mão. Exatamente como hoje, eram intermináveis sessões de sorrisos e afagos, dirigidos não só aos conhecidos, mas a qualquer um que aparecesse.
Uma boa assessoria deveria providenciar visitas importantes à sua casa e platéias para os discursos, além de um "nomenclator", o providencial assessor que lhe assopra no ouvido os nomes das figuras importantes que estão por perto. Para destacar-se na multidão, deveria usar sempre uma túnica bem branca, a chamada "toga candida". De tanto usar essas vestes os caçadores de voto romanos foram chamados de candidatos.
Compra de votos

Não há indícios, nos conselhos de Quinto, de que seu irmão tivesse um Delúbio ou Valério – mas era comum, já naquela Roma de Júlio César e Pompeu, recorrer a tais figuras. Elas tinham até um nome: eram os divisores, os tesoureiros de campanha, assim chamados porque dividiam o dinheiro em troca dos votos. Quando se faziam tais acordos, o suborno era deixado, até a eleição, com um intermediário, o "seqüestre".
Quinto pede, no texto, que Cícero evite as discussões e definições políticas, "de modo que o Senado creia que serás um defensor de sua autoridade; e a multidão, que não te oporás aos seus interesses". Compromissos partidários sérios, nem pensar: era preciso dar tratamentos diferentes aos dois principais grupos políticos da época, os "optimates" (da nobreza) e os "populares" (das classes média e baixa). Como os nobres não engoliam o sistema republicano então vigente, Quinto aconselha: "Deves convencê-los de que nós sempre tivemos os mesmos sentimentos (deles), em relação à república e que em absoluto temos sido populares; e que, se alguma vez nos viram falar como populares, o fizemos com a intenção apenas de atrair (o poderoso general ) Pompeu."

Por fim, era indispensável bater duro nos concorrentes. "Dos rivais, Antônio e Catilina, (...) deves lembrar que são assassinos desde a infância e depravados os dois." Um deles "comprou no mercado de escravos uma amiguinha para tê-la em casa, abertamente".

Com muita ou pouca ajuda do manual, Cícero foi eleito, dividindo o consulado com o rival Gaio Antônio. Seu ano como cônsul, em 63 a.C., entrou para a história. Foi nesse cargo que, em discursos memoráveis, denunciou uma grave conspiração comandada por outro rival: Catilina. Seu furor foi tal que, já na manhã seguinte ao primeiro discurso – ele fez quatro –, Catilina fugiu de Roma e, comandando uma rebelião, morreu meses depois.

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