Qual crise?
Do site Caros Amigos! Vale a pena a reflexão.
É acintosa a hipocrisia quando o tema é "crise aérea". O debate é necessário. Porém, por que não fazê-lo também sobre outras crises que há muito mais tempo assolam milhões de homens e mulheres diariamente? São incontáveis as horas úteis perdidas por trabalhadores e estudantes de todas as idades nos ônibus, trens e barcos do Brasil. É bom ressaltar que não se trata de uma crise constatada nos últimos 10 meses e sim, nas últimas décadas.
São veículos, na sua maioria, inadequados ao transporte de pessoas, verdadeiros caminhões encarroçados na forma de ônibus, e em péssimo estado de conservação. Estou falando de ônibus e trens que chovem dentro durante a chuva; que sujam e rasgam a roupa do trabalhador; de 10 pessoas por metro quadrado, o que só é comparável a gaiolas que transportam bois e porcos do local de suas engordas ao matadouro; de veículos que quebram e de viagens que não chegam a acontecer; de uma gestão pública que não se apresenta nunca; de artifícios desenhados para ampliar o lucro de empresários, alongando intervalos, superlotando veículos e atrasando a vida do passageiro.
O curioso é que nunca vimos alguém defender a necessidade da criação de CPI’s para discutir o assunto. Os jornais falados, escritos e televisados sequer tangenciam o tema em suas pautas. A não ser quando a crise do transporte público afeta o ir e vir dos cidadãos um pouco mais nobres, como os que conseguem se deslocar com seus próprios veículos. Em uma greve recente dos metroviários na cidade de São Paulo um repórter alardeou na televisão: "O trânsito da cidade está caótico com a greve dos metroviários". Se não fosse pelo caos no trânsito, era bem possível não sabermos que o metrô parou, três vezes só neste ano, na maior cidade brasileira.
Isso se dá, pura e simplesmente, pelo fato de os brasileiros que utilizam os serviços de transporte coletivo serem, na maioria, cidadãos pertencentes às classe C e D, carentes de canais para denunciar os seus problemas cotidianos. Os cidadãos da classe E andam a pé por não ter condições de arcar com o preço das tarifas.
O ciclo é tão vicioso, que nós fomos convencidos que pessoas classificadas nas classes A e B valem mais que as demais. Se um usuário de transporte público for entrevistado no interior de um terminal de ônibus urbano em qualquer cidade brasileira, ele irá discorrer sobre a crise aérea com mais propriedade do que falaria sobre as causas das mazelas que enfrenta em seus deslocamentos diários. Mesmo que nunca tenha pisado em um aeroporto. Por quê?
Esta orquestra tem um maestro: a mídia. No contexto sócio- econômico-cultural de país em desenvolvimento, a mídia exibe uma força descomunal e um imenso poder de persuasão. Cabe lembrar que em países como França, Inglaterra e os Estados Unidos, esse poder diminuiu na medida em que a democracia se fortaleceu. A sociedade passa a se balizar em mais variadas fontes de informação. Aqui, a mídia tenta reger a sociedade e os políticos. Aqui a mídia causa.
O setor aéreo tem passado por grandes transformações nos últimos anos. O número de passageiros se multiplicou com o início de um processo de "deselitização" do transporte aéreo, previsível no cenário de melhor distribuição de renda e relativo crescimento econômico. Em 2000, Congonhas, em São Paulo, recebeu 10 milhões de passageiros e o aeroporto Juscelino Kubitschek, em Brasília, 5 milhões. Em 2006, 18 e 9,6 milhões, respectivamente. Em todo o país, o crescimento também foi expressivo. Em 2003, eram 72 milhões, no ano passado,esse número chegou a 102 milhões. Curiosamente, o número de aeronaves das maiores companhias caiu de 350 em 2001 para 265 hoje.
A infra-estrutura, de fato, não acompanhou a velocidade desse processo e deixa a desejar em vários aspectos. Porém, as apurações dos dois trágicos acidentes que mataram quase 400 pessoas, apontam para falha humana ou mecânica como causas dos desastres. Ou seja, a crise não merece o status de caos nacional, diante dos enormes problemas sociais que temos. Respostas precisam ser dadas. Mas outras muitas perguntas estão lançadas.
Como aceitar quem, a cada dois dias, morram em acidentes de trânsito no País o equivalente a uma tragédia com o avião da TAM, cheio de gente? Quanto isto custa para nós em dores e em dólares?
Serviços essenciais a todos os brasileiros como saúde, educação, moradia, alimentação, transporte público, segurança, lazer e, inclusive, o sistema de transporte aéreo merecem toda nossa atenção e empenho. Não podemos esmorecer alegando cansaço como alguns. A luta é árdua e a estrada é longa.
Olmo Xavier é arquiteto e urbanista
3 Comentários:
PURA REALIDADE ... texto bacana!
Uma visão punk mas absolutamente real ... e me lembrei que "daqui a pouco" vamos ter as nossas eleições presidenciais, faltam apenas 3 anos!
Na velocidade que vamos logo chegará 2010, claro que muita coisa vai mudar (há que acreditar), mas fiquei intrigado, pois 3 anos antes e ainda não vi ninguém com boa referência para esse meu voto!
Falo por mim ...
E vocês?
O que acham??
Quem hoje poderia (ou poderá) ser uma boa opção, para pegar nessa bomba daqui a 3 anos e leva-la no colo?
Abraços,
Angolla
Não sei o que acontece nesse país, a cegueira é gritante em todas as suas formas e ao que parece tem piorado.
Não sei o que pode ser do Brasil, dos filhos que o Brasil cria hoje em dia, mas uma coisa é certa, se houver um presidente digno e correto mesmo no cargo, é possivel um começo de mudança. O congresso tb deveria desinchar e falo não só do número de parlamentares, mas do sem número de mordomias dos cargos.
O problema principal é que cargo público deixou de ser público para ser privado, na verdade, cargo público hoje em dia é visto pela maioria da população brasileira como fonte de renda boa e de possibilidade de usufruir do que não é seu exatamente, de ter influência. A função pública, o servir ao outro, ao país, deixou de ser o foco principal.
A mentalidade tem que começar a mudar dai, por que quando se dirige algo com seriedade e retidão é impossivel não haver progressos para a sociedade, e infelizmente é isso que falta aos nossos políticos.
Infelizmente também, não vejo alguém em especial realmente no cargo de presidente, no futuro. Provavelmente daqui a 3 anos nem aqui estarei ... não sei, talvez Gabeira, mas é fato que ele terá de lutar muito contra o voto de curral que ainda domina o cenário político e é óbvio contra a influência malévola e populista de lula ...sei lá ..talvez haja um terremoto na área do planalto, vai saber.... que não morram os poucos bons.
Acho que estamos precisando de uns cavaleiros Jedi aqui pra cortar umas cabeças.
Quem sabe o Nelson Jobim... hehehehehe
Lula inventou de colocar o cara lá no Ministério da Defesa que está altamente em evidência nesse momento...
O PT tá brincando com fogo, pois não tem nome nenhum que tenha alguma expressão nacional para concorrer a Presidente...
Mas antes disso tem eleição para Prefeito... Como voto em Jaboatão, esta é uma questão sempre dificílima. Nunca tem nenhum candidato que me faça votar com gosto. Pior que o município está precisando de gente que trabalhe sério. E não é de hoje.
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